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Guloseimas e pensamentos...

31.5.07

Propinas...



Propinas: passado e presente

No Brasil, a propina tem uma história venerável. As lucrativas e íntimas interconexões entre o abuso de poder governamental, as quantias substanciais propiciadas pelos contratos e os empresários que recebem do Estado esses contratos não é novidade nenhuma. Nas Minas Gerais da era colonial, propinas generosas eram formalmente incorporadas ao custo dos contratos concedidos pelo governo. O governador da Província e os funcionários do Judiciário recebiam adicionais aos seus salários oficiais conhecidos como "propinas", o que explica a origem do uso dessa palavra para descrever tal forma de pagamento no Brasil. Em 1780, por exemplo, o governador de Minas Gerais recebeu, além do seu salário oficial, adicionais de cerca de 50% em forma de propinas, consideradas legais e que constavam das contas oficiais do governo. Os magistrados e outros funcionários locais recebiam suplementos salariais semelhantes, se bem que menos generosos. As propinas vinham de empreiteiros que haviam recebido contratos para arrecadar em nome do governo a maior parte das receitas do Estado.

De fato, o Estado havia privatizado a função básica de recolher impostos muito antes da década do neoliberalismo. Os contratos que envolviam arrecadar impostos de importação e de exportação para o território da Província e tributos sobre a produção, uso de estradas e venda de produtos costumavam ser concedidos aos mais importantes empresários locais. O sistema gerava muitos abusos, e reformá-lo era virtualmente impossível. De fato, quando, em 1784, um oficial da contabilidade recomenda a reforma tributária, dizendo que esse método de contratação era prejudicial para o Estado, o governador e o chefe de Judiciário foram ambos totalmente contra qualquer mudança, apesar de serem inimigos e de discordarem sobre tudo. O que fica claro é que gente demais no interior do sistema lucrava com a maneira pela qual ele operava, embora o povo, evidentemente, não se beneficiasse. O povo se via forçado a pagar impostos pelos coletores, que desejavam extrair o máximo lucro de seus contratos com as autoridades. Quanto mais impostos eles arrecadassem para além do montante prometido ao governo, mais dinheiro sobrava para eles.

Foi Joaquim José da Silva Xavier que definiu a situação da melhor maneira: "Os governadores... cada três anos vinham... e todos iam cheios de dinheiro, que traziam uma machina de creados, e que cada um delles ia à proporção cheio". Tiradentes estava falando, é claro, sobre governadores e criados vindos de Lisboa, e não sobre aqueles que hoje vivem em Brasília.

Kenneth Maxwell com tradução de Paulo Migliacci na Folha de hoje.

30.5.07

Eu apóio...




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29.5.07

Refletir sempre é bom...

...e nos ajuda a mantermo-nos calados.



A morte chega cedo (Fernando Pessoa)

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

25.5.07

A noite enorme...


A noite enorme

leva-me os sinais

onde se quedam os teus.

E nas mãos incrédulas,

tingem-se suspiros

de silêncio...

(Poeta, Albino Santos)

22.5.07

Sempre se sabe...

Estou desanimado com tudo que acontece nesse nosso país. A cada acerto que vejo, aparecem 10 desacertos. Cony, na sua coluna de hoje na Folha de São Paulo fala sobre literatura traçando um paralelo com o atual escândalo (mais um) econômico-político.

Para não deixar este espaço em branco, posto que estou com o saco cheio, deixo o texto bem escrito dele.

Sempre se sabe CARLOS HEITOR CONY, in Folha de São Paulo, 22 de maio de 2007.

RIO DE JANEIRO - No romance, dois irmãos são diferenciados porque um é filho legítimo e o outro, ilegítimo -num tempo em que a lei civil fazia esse tipo de diferença. Suportam-se na medida do possível.
Já adultos, os pais mortos, têm coragem de conversar sobre o assunto que os separa desde a infância. O irmão legítimo fica admirado ao ver que o meio-irmão conhecia a origem bastarda. Pergunta admirado: "Como é que você soube?". O outro responde: "No fundo, sempre se sabe".
Na vida real acontece mais ou menos a mesma coisa. Cedo ou tarde, de forma completa ou não, por meios legais ou violentos, ficamos sabendo do que acontece em volta da sociedade. Aparentemente, há a versão explícita e negociada dos atos e fatos que podem ser divulgados, comentados, até mesmo criticados, quando o regime é democrático, a imprensa é livre e os tribunais funcionam normalmente. A maioria daquilo que realmente acontece fica encapsulada pelas conveniências do poder e pela sabedoria geral, que aconselha a não meter a mão em cumbuca.
Apesar disso, o conflito de interesses periodicamente desponta e tira do casulo um pouco da verdade, ou pelo menos uma versão não-autorizada, levantando o espesso tapete que ocultou o lixo sempre suspeitado, mas pouquíssimas vezes provado. Surge então um grande escândalo, cujas proporções variam de acordo com a soma de escândalos menores.
Marx disse que ninguém melhor do que Balzac estudou o dinheiro como personagem da história. No tempo do autor de "Cesar Birotteau", podia-se enriquecer de várias maneiras, inclusive as legais. Hoje, o caminho preferencial para a riqueza passa pelo Estado, nem sempre de forma legal. Podemos fechar os olhos para isso, mas, no fundo, sempre se sabe.

18.5.07

Eu queria entender...

...como algo assim pode ser chamado de brinquedo?
Queda Livre!!!!

"O queda livre é um brinquedo da linha dos "jump" (pular, numa tradução livre do inglês) que inclui outras variações, como o moto e car jump, onde a pessoa é lançada por uma corda presa aos veículos, e o mais famoso deles, o bungee jump --quando o corpo da pessoa é preso a uma corda elástica e ela é lançada de uma altura de mais de 30 metros rumo ao solo.
No caso do queda livre, o participante é elevado, junto com um operador, numa plataforma a uma altura de aproximadamente 60 metros, içado por um guindaste móvel. Assim que a plataforma atinge sua altura máxima o participante salta em queda livre --ou seja, sem corda segurando seu corpo, como ocorre no bungee jump-- de 30 metros. A queda é amortecida por um quadrado de redes flexíveis a 20 metros do chão, amortecido pelos infláveis laterais da rede."

Inacreditável que as autoridades de qualquer país permitam que este tipo de atividade esteja liberada para o público. Um negócio em que a pessoa salta de 60 metros de altura sem nenhum tipo de segurança que não sejam redes montadas abaixo. Um risco enorme e que em caso de erro acaba em acidente fatal, como nesta noite ocorreu.

Matéria completa aqui: Jovem morre ao pular de brinquedo.

15.5.07

La Môme...


"De todas as cantoras autenticamente populares, Piaf é, talvez, aquela cuja existência e carreira foram copiosamente travestidas por uma infinidade de histórias mais ou menos confirmadas e de lendas mais ou menos verdadeiras."

(Piaf Biografia - Pierre Duclos e Georges Marin – Ed. Civilização Brasileira)

O site Sosni escreveu em 2005:

"Um frágil pássaro de voz potente, profunda e de entonação passional, que marcou a época, com ela desaparecida, de uma França feita de velhos becos, floristas, realejos, acordeons, garçons e garçonetes, Edith Piaf – o doce Passarinho dos franceses – cantou como ninguém em seu país os encontros e desencontros, as felicidades e os males de amor, encantando as platéias do mundo por três décadas, sendo considerada até hoje a Grande Senhora da Canção Francesa. Decorridos 37 anos de sua morte, Piaf continua inesquecível, sem substituta, no coração dos franceses."

Agora em 2007, durante o Festival de Berlim (Fevereiro) foi apresentado o filme "La môme", do diretor Olivier Dahan que conta a história da brilhante cantora francesa:

Nascida nas ruas, uma ‘môme’, como dizem os franceses, Piaf foi abandonada pela mãe e criada num prostíbulo, onde uma das garotas a tomou sob sua proteção, até que o pai retirasse dali a pequena Edith para levá-la a se apresentar nas ruas. Descoberta por um empresário Louis Leplee, Piaf teve o seu Pigmalião, o homem que esculpiu o mito, mostrando-lhe que não bastava ter voz, ou cantar como um pintassilgo. Ela tinha de ser também uma atriz da canção. Tudo é difícil na história dessa vida, acima de tudo porque a garota das ruas teve de lutar sempre contra o fantasma da autodestruição. A mulher que cantava o amor como ninguém não sabia amar, ou suas escolhas iniciais é que eram equivocadas. Quando encontrou o amor no campeão mundial de boxe Marcel Cerdan ele morre num acidente aéreo. É demais para Edith... é demais para todos que amavam esta mulher. Ela morreu em 1963, aos 47 anos.

Até o final do ano deveremos ter o filme lançado por aqui. Segundo boatos que ouvi, ele seria lançado ainda em abril pela Europa Filmes, mas ainda não vi nada a respeito. E provavelmente aqui no interior não passará, já que o circuito privilegia filmes com heróis e fantasmas. Terei de ir a Sampa assistir.

Quem quiser saber mais sobre a cantora pode ler nos seguintes links: Zadig - biographie e quem gosta de cinema, poderá ler um depoimento muito legal daquele que considero o melhor crítico de cinema do Brasil, o Merten, neste link aqui.

Para finalizar, deixo a letra dela que na minha opinião mais marcou sua carreira juntamente com La vie en rose.

Je ne regrette rien

Non! Rien de rien...
Non! Je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien...
Non! Je ne regrette rien...
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé!

Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux!

Balayés les amours
Et tous leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non! Rien de rien...
Non! Je ne regrette nen...
Ni le bien, qu'on m'a fait
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien...
Non! Je ne regrette rien ...
Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi!

10.5.07

Um pássaro menor...



Um pássaro menor

Quis, de fato, que o pássaro voasse

E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo,

Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,

E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição

De querer silenciar uma canção.

Robert Frost (Tradução de Renato Suttana)

7.5.07

Baú aberto...





Conversando com uma amiga sobre o daltonismo, recebi informações mais detalhadas do que se trata esse negócio. Faz tempo que sei ser portador desta deficiência, mas nunca tinha lido a respeito e menos ainda sabia que isso ocorre mais em homens do que em mulheres (97% é muito). em todo caso, para tirar a dúvida das pessoas, deixo abaixo o texto que recebi dela e os links para quem for curioso.

Agora, só quem usou roxo pensando que era azul e bege pensando que era verde é que me entenderá. Ah, e também postei um poeminha que fiz com este tema há alguns anos.


Daltonismo

Também chamada de discromatopsia ou "cegueira para as cores", é um defeito genético de transmissão bastante peculiar que atinge, em 97% dos casos, os homens. Isso ocorre porque a falha genética está ligada ao cromossomo X. Os homens têm apenas um X, como as mulheres têm dois desses cromossomos, a chance de ter os dois defeituosos é menor. Homens daltônicos vão transmitir o gene do daltonismo somente para suas filhas, nunca para os filhos, as filhas não manifestam nunca o daltonismo mas têm uma chance de 50% de transmiti-lo para seus filhos homens. Portanto, homem daltônico só tem possibilidade de ter netos daltônicos se tiver filhas, que serão sempre, e somente, portadoras, e a possibilidade desses netos serem daltônicos será sempre de 50%.


O daltonismo não é tido como uma deficiência física de grande significado (dado que a maior parte dos daltônicos tem visão normal, no que se refere às demais características), apesar de dificultar, e muitas vezes impossibilitar, uma série de atividades profissionais e do dia-a-dia. Apesar de não existir nenhum tratamento, tem se desenvolvido alguns recursos ópticos para facilitar a identificação das cores.

Na retina humana normal existem receptores sensíveis às cores, os cones, que contêm pigmentos seletivos para a cor, verde, vermelha e azul. A deficiência de cores ocorre quando há uma redução na quantidade de um ou mais desses pigmentos.

Os daltônicos vêem de 500 a 800 cores. Uma das cores prediletas de quem tem esta alteração genética é o roxo, cor viva. A incidência de daltônicos pode variar conforme a localidade. Nos EUA e na Europa, por exemplo, é maior do que entre os índios da região andina. É comum que uma mesma família tenha diversos casos de daltonismo...

...Apenas um numero muito pequeno de pessoas sofre de verdadeira incapacidade para ver todas as cores. Neste caso dizemos que têm visão acromática, ou seja, vê o mundo em tons preto, branco e cinza. A estimativa é de que, para cada 30 ou 40 mil pessoas, exista uma acromata. Quem tem acromatopsia nem mesmo sonha em cores.

Fontes:
www.oftalmocenter.com.br/daltonismo.htm
www.saudeplena.com.br/noticias/index_html?retranca=dalto2&NN=dalto

4.5.07

Nadie Es Perfecto...

Meus amigos, ao freqüentar este meu blog, já sabem que gosto muito de cartuns e charges. Nos anos 70, o cartunista Jaguar, um dos editores do Pasquim, foi um expoente deste tipo de humor, que reúne inteligência e perspicácia. Há alguns dias, ele deu uma entrevista à Folha de São Paulo que achei bastante interessante e abaixo resolvi postar alguns trechos.

FOLHA - Como anda o cartum?

JAGUAR - O cartum é uma espécie em extinção. Tem muita gente publicando história em quadrinhos, charges, caricaturas. Não é a mesma coisa. Sou cartunista, mas sobrevivo fingindo que sou chargista. Se não, não pago as minhas contas.

FOLHA - Qual é a diferença essencial entre cartum e charge?

JAGUAR - Simples. Por exemplo. Hoje fiz uma charge sobre a visita do Bush. Desenhei o Lula chamando o Bush, que está indo embora do quadrinho. Só aparecem os pezinhos dele. Lula estica o dedo e chama: "Ei, ô companheiro, e a saideira?". Isso é uma charge. Uma piada que, daqui a cinco anos, ninguém vai entender, porque é em cima de uma circunstância.

FOLHA - E o cartum?

JAGUAR - É um troço que você faz sobre assuntos que daqui a 20 anos qualquer um entenderá. Um exemplo clássico, uma piada qualquer sobre o "Ricardão dentro do armário". Todo mundo sabe do que eu estou falando. Piadas sobre vida conjugal, sexual, todo mundo entende. Em qualquer época. Já piadas em cima de fatos políticos momentâneos vão ficando incompreensíveis.
O cartum está morrendo, o "Pasquim" não foi assim tão influente e o mundo anda ficando sem graça. Apesar de fazer diagnósticos tão alarmistas, o humorista Jaguar não se diz um nostálgico. "Nostalgia é coisa de velho gagá", diz. O humorista avalia que a vida do "Pasquim" poderia ter sido mais curta, pois o jornal foi perdendo influência e tiragem. "Devia ter ido cuidar da minha vida, mas insisti de teimoso, de burro."

FOLHA - Houve um retrocesso no humor brasileiro com relação aos anos da ditadura?

JAGUAR - Sim. Essa coisa de não poder chamar crioulo de crioulo, por exemplo. Fui casado dez anos com uma crioula. Não é pejorativo. Não vou começar a dizer que casei com uma afro-descendente. É uma hipocrisia.Mas a maioria dos humoristas hoje é muito certinha. Criou-se um limite e, se a gente passa um pouco, leva pito. Eu não levo mais porque sou velho e sou o Jaguar. Aí as pessoas dizem: "Ah, é o Jaguar, deixa ele".


Aos 75 anos e ainda freqüentando de modo assíduo os botequins do Rio -e os da cidade onde estiver-, Jaguar encontrou a Folha num tradicional restaurante da rua São José, no centro da cidade, na tarde da última sexta-feira. O motivo da entrevista é o fato de ele estar agora à frente da coleção de humor da editora carioca Desiderata, publicando novos cartunistas e gente da época do "Pasquim", incluindo ele próprio. Entre os lançamentos vindouros, um livro de cartuns que ele havia publicado apenas na Argentina, há mais de 30 anos, e do qual não lembrava mais. "Voltei para o Rio, cai na gandaia, e esqueci dele." O título, sugestivo, é "Nadie Es Perfecto" (ninguém é perfeito). Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

Entrevista concedida à SYLVIA COLOMBO
Os cartuns deste post foram retirados deste link, onde se encontra mais informações sobre o autor.

3.5.07

Canções e momentos...

Todo o amor que houver nesta vida
Cazuza - Roberto Frejat

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcance em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria


Cazuza foi marcante para toda uma geração, como músico que "poetava" canções. Esta letra especificamente, me toca fundo e representa tudo que espero e sempre esperei de um amor, estando ou não maduro para ele.