Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

29.4.07

Poesia...


Só tu (Paulo Setúbal)

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantos os que me amaram!
São tantos os que eu amei!
Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todos os que eu amei.

28.4.07

Maiakóvski...



"...e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?

Deixa-me ao menos arrelvar numa
última carícia teu passo que se apressa."



Trecho do poema
LÍLITCHKA! EM LUGAR DE UMA CARTA com tradução de Augusto de Campos. Descaradamente roubado de minha amiga Taís, daqui!

27.4.07

Gosto de charges...


24.4.07

Sentir-se no paraíso...


Drops...

Hoje não terei tempo de fazer um post adequado, escrito com calma, refletido etc. Estou com algumas tarefas de última hora na agência e ontem eu estava morto para pensar em algo. Entretanto, gostaria de deixar alguns drops, reflexões sobre eventos dos últimos 3 dias:

- almoçar com amigos revigora a alma e renova as esperanças.

- os produtores russos de vodka estão tristes, pois perderam seu maior consumidor e principal garoto propaganda.

- os produtores brasileiros de cachaça, estão tranqüilos, pois seu principal garoto propaganda e grande cliente consumidor, está firme e forte, companheiro.

- se alguém tinha dúvidas, penso que agora elas foram esclarecidas: existe corporativismo em todos os três poderes no Brasil.

- Franklin Martins decididamente não merece ser lembrado pelo o que escreveu ou falou no passado, pois ele fica muito bem de marionete.

Agora vou até ali limpar o veneno que está escorrendo...

23.4.07

Encontros fraternais...




Amigos meus (Vinícius de Moraes)

Amigos meus, está chegando a hora
Em que a tristeza aproveita pra entrar
E todos nós vamos ter que ir embora
Pra vida lá fora continuar

Tem sempre aquele
Que toma mais uma no bar
Tem sempre um outro
Que vai direitinho pro lar

Mas tem também
Uma sala que está vazia
Sem luz, sem amor, sombria
Prontinha pro show voltar

E em novo dia
A gente ver novamente
A sala se encher de gente
Pra gente comemorar

obs: pintura de Jo Oakley

19.4.07

Projeto de lei...

Hoje pela manhã, após o jornal eu zapeei por alguns canais e caí naquele destinado aos nobres senadores da república brasileira, a TV Senado. Era transmitida a sessão da Comissão de Educação do dia 17/04.

Ao sintonizar percebi que rolava um forte debate sobre a aprovação de um relatório sobre um projeto de lei proposto pelo senador X e reprovada pelo documento elaborado pelo relator Y. Fiquei curioso e resolvi deixar no canal para ver qual era este projeto que gerava tão caloroso debate entre os senadores. Discutia-se, a necessidade de evitar a votação nesta quarta, deixando para a próxima sessão da comissão.

O senador proponente do projeto não estava presente, viajava para a terra da bota sem previsão de retorno (provavelmente devia estar em plena pesquisa sobre o sistema de ensino italiano). O relator dizia que não aceitava mudar seu documento, posto que estava sustentado pela legislação. Enfim, aquilo continuava e nada se definia. Comecei a ficar agoniado para saber qual era o tão importante projeto de lei.

Quando o emérito senador Paulo Paim me elimina a dúvida, dizendo que tal “rodovia” podia ter seu nome alterado sim. O projeto propunha que o nome da rodovia federal 364, passasse de Juscelino Kubistcheck para Euclides da Cunha. O senador Marco Maciel dizia que por ser uma rodovia que começava pelo número 3 em vez do 4, era permitido que apenas um determinado trecho da rodovia tivesse seu nome alterado.

O relator dizia que a rodovia já possuía o nome de um grande brasileiro e que por isso não tinha razão em aceitar a emenda. O senador Marcelo Crivela, bispo da Igreja Universal, dizia que o Euclides devia ser homenageado por ser carioca e ter sido um brasileiro normal, que sofreu ao ser enganado pela esposa e deu a resposta assassinando o “Ricardão” (ai meu saco)... E assim esta sessão continuou mais um tempo sobre o assunto.

Era uma reunião da Comissão de Educação e eles “gastavam” o tempo discutindo o nome de uma rodovia, sendo que muitos brasileiros que por lá passam ou passarão, não saber ler e nem escrever.

Será que não tinham algo mais interessante por fazer? A educação neste país anda maravilhosa, não é? Não faltam vagas nas escolas e universidades, os professores ganham bem em todos os níveis, a pesquisa científica caminha de vento em popa etc.

Precisamos que o digníssimos senadores discutam mesmo os nomes de rodovias, ruas, praças e outros logradouros em vez de pensarem em outras necessidades de nossa república.

Ah, minha paciência anda cada dia mais curta!

Abaixo vocês têm os dados deste projeto de lei:

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 027, DE 2007

“DENOMINA EUCLIDES DA CUNHA O TRECHO ACREANO DA RODOVIA BR-364”.
AUTORIA: SENADOR GERALDO MESQUITA JÚNIOR
RELATORIA: SENADOR NEUTO DE CONTO
PARECER: PELA REJEIÇÃO

17.4.07

Sangue...



Será que conseguimos estancar as feridas sangrantes deste mundo? Ando desiludido e frustrado com tudo que me cerca.

imagem from Exposição Gráfica Suíça - 1950 a 2000
16/4 a 20/5 - Inst. Tomie Ohtake - São Paulo

15.4.07

Eita mundo doido...

Nos anos setenta, havia um cantor que com letras provocativas fazia sucesso nas paradas bregas aqui do Brasil (aliás, os anos 70 foram bregas além do limite). Seu nome era Silvio Brito e uma das letras dele dizia:

"...Pare o mundo que eu quero descer
Que eu não agüento ouvir mais falar em crise do petróleo

Que vai aumentar

E pensar que a poluição contaminou até as lágrimas
E eu não consigo mais chorar.

E ainda por cima

Ter que pagar pra nascer

Ter que pagar pra viver
Ter que pagar pra morrer.

Tá tudo errado, tá tudo errado

Desorientado segue o mundo..."

A letra continua atual, até fala do Corinthians não ganhando nada, mas sobretudo fala da maluquice deste mundo sem nexo. Vejam a notícia abaixo e me digam se este mundo não está cada vez mais louco (notícia retirada daqui. Thanks Cris).

"Um ex-detento, cabeleireiro de Sorocaba (a 100 km de São Paulo), foi preso na segunda-feira (9) suspeito de agredir e roubar uma mulher a poucos metros da delegacia da cidade. A ousadia do crime tem motivo: ele queria voltar para a cadeia. Minutos antes de realizar o assalto, Cléberson do Rosário, de 24 anos - que já havia cumprido pena por roubo -, foi à delegacia pedir para ser preso de novo, segundo o jornal "Agora".

De acordo com os investigadores, ele estaria com saudade do namorado, que continua detido. O namorado do cabeleireiro está no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Aparecidinha, distrito de Sorocaba, de onde Rosário saiu na semana passada (do dia 4 de abril), em liberdade provisória.

Policiais relataram que o cabeleireiro insistiu para voltar ao CDP, mas os investigadores explicaram que nada poderia ser feito porque ele não havia cometido nenhum crime que justificasse a prisão. Então, o cabeleireiro teria decidido praticar o assalto. Ele agrediu e roubou o dinheiro de uma mulher de 24 anos quase em frente à delegacia. Rosário foi preso e encaminhado novamente ao CDP de Aparecidinha."

12.4.07

Vinícius sempre...



A brusca poesia da mulher amada

Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor – oh, a mulher amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?

Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...

Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias
Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.

10.4.07

Democracia...

Os eleitores do Timor Leste compareceram em massa (cerca de 500 mil pessoas ou quase 50% da população) às urnas nesta última segunda feira para escolher um novo presidente para o país mais novo do planeta, afetado pela pobreza e a violência, o que criou um problema de falta de cédulas em alguns locais. Alguns timorenses esperaram por horas para poder exercer o voto, um direito recentemente adquirido.

Ouvi falar do Timor Leste pela primeira por volta de 1996, quando apareceu nos noticiários internacionais por causa do movimento guerrilheiro que tentava tirar o país do domínio da indonésio. A ex-colônia portuguesa esteve sob ocupação da Indonésia entre 1975 e 1999 e ficou sob administração da ONU até 2002.

A eleição, a primeira desde a independência em 2002, decidirá o sucessor de presidente Xanana Gusmão, que não concorreu a um novo mandato desta vez.

Algumas curiosidades desta eleição:

- o comparecimento dos eleitores não é obrigatório.
- como grande parte da população é analfabeta, as cédulas teriam de ser perfuradas no nome do candidato escolhido, com uma caneta ou um prego.
- se nenhum candidato conseguir 50% dos votos, o segundo turno será realizado no dia 9 de maio entre os dois mais votados.
- o novo presidente do país terá um mandato para os próximos cinco anos.
- o país terá que esperar vários dias pela apuração total, já que algumas urnas das zonas mais afastadas são transportadas a cavalo ou de helicóptero.

Obs: segundo Boaventura Souza Santos (sociólogo português), os interesses internacionais, principalmente australianos, em Timor são econômicos (reservas de petróleo e gás calculadas em US$ 30 bilhões) e geomilitares (controlar rotas marítimas e travar a emergência da China). A refletir...

Pode parecer pouco importante falar de um país que tem população menor que algumas cidades do interior paulista, entretanto para mim não é. Sorry! E que bonito foi ver as filas dos eleitores e seus olhos desejando um futuro melhor. Só espero que não tenham um Lula por lá.

9.4.07

Campanha...

Cliquem acima e conheçam o trabalho. Depois se puderem, colaborem...


5.4.07

Vogais coloridas...

, sobre as cores das vogais, veja esta minha simples tradução para o texto do grande poeta. De qualquer maneira, ele coloriu vogais e mesmo com meu daltonismo, isso eu consegui ver.

Voyelles (Rimbaud)

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu: voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombre; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux!

Vogais (Rimbaud)

A negro, E branco, I vermelho, U verde, O azul: vogais,
Algum dia direi de vossas matrizes latentes:

A, negro corpete aveludado e impactante de moscas
Que voam em torno de mau odores implacáveis,

Enseadas de sombra. E, inocência de névoa e tendas,
Lanças de gelo altivas, reis brancos, tremor de folhas;
I, púrpura, sangue cuspido, riso de lábios belos
Na cólera ou na embriaguês penitente

U, ciclos, vibrações divinas de mares ondulantes,
Paz das campinas semeadas de gado, paz das rugas
Que a alquimia imprime nas frontes dos estudiosos

O, supremo clarim, pleno de sons estranhos,
Silêncios cruzados por mundos e anjos
- O, o ômega, a emanação violeta de Seus Olhos!

2.4.07

Milonga e Malvinas...


“...Él sólo quería saber
si era o si no era valiente.

Lo supo en aquel momento
en que le entraba la herida.
Se dijo no tuve miedo
cuando lo dejó la vida”.

Trecho final do poema "Milonga de un soldado", de Jorge Luis Borges.

Há 25 anos, eu servia ao país (eu era "reco", "milico", "periquito", "pé de alface", "praça", "atirador", "infante" etc.) Ou seja, eu estava no Tiro de Guerra. Mal tinha terminado o colegial e aos 17 anos eu já estava alistado no Exército a fim de encurtar meu caminho para a universidade.

Estou envelhecendo, o sei bem. Os anos vão passando, as histórias acontecendo, a maturidade aumentando. Não, não estou na terceira idade e nem caquético. Eu poderia ter escrito estas frases quando tinha 25 anos e teria o mesmo efeito, pois eu amadurecia e crescia. Nós todos sabemos que esta evolução física e mental é natural. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos... Uia, mas porque estou falando disso?
Nada de filosofar sobre a vida e a morte, a idéia deste post é falar de outra coisa: os 25 anos da Guerra das Malvinas ou Falkland War. Guerra esquisita, sem pé nem cabeça, reflexo de uma ditadura decadente em busca de uma sobrevida e de uma primeira ministra correndo o risco de perder o poder. Bom, de qualquer forma, toda guerra é a luta pelo poder, seja no local onde ela ocorre ou no país de quem participa dela.

Não pretendo discutir os meandros desta guerra, estúpida como todas, que começou em 02/04/1982 e terminou em 14/06 do mesmo ano. Uma disputa idiota, por um pedaço de terra gelado e sem grande importância estratégica, mas que aos vencedores permitiu a continuidade do governo de Thatcher e suas políticas de economia liberal para a Grã-Bretanha e aos perdedores, a queda do governo ditador de Galtieri, que acabou levando nosso país vizinho às urnas em 1983.

O curioso para mim desta lembrança toda é o que passava na cabeça dos jovens "recos" interioranos que temiam a entrada de nosso grandioso país nesta guerra besta. Por incrível que possa parecer (não se esqueçam que também vivíamos sob as hostes da ditadura militar), o nosso Exército deixou todas as unidades de sobreaviso, pois havia a possibilidade do envio de tropas para o sul do continente em apoio "a los hermanos" e nós, simples militares temporários poderiam assumir quadros junto aos quartéis espalhados no Brasil.

Lógico que tudo isso era fantasia, ou de nossos capitães ou do comando geral dos Exércitos. Não iria acontecer isso, não estávamos preparados para tal ação e nem haveria necessidade do uso de tanto efetivo para uma ação destas.

Mas que o calafrio de uma participação numa possível guerra perpassou por minha coluna...
Milonga para um soldado
Jorge Luis Borges - Tradução Hector Zanetti

O hei sonhado nesta casa,
entre paredes e portas,
Deus permite que os homens
sonhem coisas que são certas.

O hei sonhado mar afora,
em umas ilhas glaciárias,
que não digam os demais
o túmulo e os hospitais.

Uma de tantas províncias,
do interior foi sua terra,
não convém que se saiba
que morre gente na guerra.

O sacaram do quartel,
Puseram-lhe nas mãos
as armas e o mandaram
a morrer com seus irmãos.

Ouviu as balas arengas
dos vãos generais,
viu o que nunca havia visto,
a neve e as areias.

Ouviu vivas, e ouviu morras
ouviu o clamor da gente,
ele só queria sabers
e era ou não era valente.

O soube naquele momento
em que lhe entrava a ferida,
se disse não teve medo,
quando o deixou a vida.

Sua morte foi uma secreta vitória
ninguém se admire que me dê inveja e pena
o destino daquele homem.

Ouviu as balas arengas
dos vãos generais,
viu o que nunca havia visto,
a neve e as areias.

Ouviu vivas, e ouviu morras
ouviu o clamor da gente,
ele só queria saber
se era ou não era valente.

O soube naquele momento
em que lhe entrava a ferida,
se disse não teve medo,
quando o deixou a vida.

Este poema foi escrito por Borges para os combatentes nesta guerra estúpida. Quem tiver interesse na versão original em espanhol, pode clicar aqui.