Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

28.11.06

Antigos nós...

Sua cabeça girava sob o efeito do caos interior que se estabelecera, logo após a abrupta descoberta de um selvagem amor desses que deixa o coração em chamas ardendo no ritmo de uma taquicardia desvairada. Nesse momento tentava desesperadamente descansar sobre seu leito, mas na sombra do seu quarto dançava a fugidia lembrança do corpo pálido da mulher que pôr vezes se aproximava dele lançava-lhe um beijo apaixonado e insinuava uma carícia audaciosa que o deixava trêmulo, contudo quando ele lhe estendia os braços a visão lhe fugia arisca, indo postar-se a porta em gestuais que lhe chamavam para uma fuga louca. Ele então pensava "- quem é essa mulher que se agiganta em mim?". O silêncio lhe respondia com um sorriso malicioso que era a sua imaginação, instigada pelo intenso desejo de possuí-la. Assim as noites se consumiam na ausência do cheiro que o excitava, na certeza da paixão que crescia entre as suas pernas, implorando para morrer devorada pela fome daquela mulher... Ah! Essa solidão povoada de reminiscências, ora espancava ora acariciava. Ainda em desespero ele se ergue e foge, quem sabe um copo de leite morno fosse capaz de aplacar essa ânsia, segue descalço, indefeso, a cada passo: um eco! O leite porém assemelha-se ao úmido gozo, ele bebe sôfrego e sente o gosto da mulher, uma gargalhada perpassa o ar agitando todas as moléculas presentes, o dia demora a anunciar-se, começa a temer a escuridão que visualiza pela janela do seu apartamento, não sabe se suportará mais essa noite sem enlouquecer definitivamente. De novo a visão se acerca dele como que apiedada pelo seu olhar carente, diz sem entonação "- me dói o seu desespero" Passa então a mão pôr seus cabelos em desalinho e o abraça enternecida, ele se sente então menino roubando sorvete na padaria, o toma uma culpa irracional, nasce a necessidade de se desculpar, sem saber do que, porém no regaço da mulher que o ama, se mostra uma planície verdejante, aonde um cavalo e uma égua, saciam a sede a beira de um riacho de águas cristalinas, o cavalo relincha e se ergue sobre as patas traseiras, sua crina esvoaça ao sabor da brisa: ele é todo macho! A égua pôr sua vez abaixa a cabeça num tributo de respeito a força que ele exala: ela é toda fêmea! E os dois se põem a cavalgar repletos de uma alegria que o comove... A consciência lhe volta, se pergunta: "- o que faço aqui de joelhos?" se volta para o relógio que em seus quadrantes marca 3 horas de uma madrugada gélida, caminhando arcado pelo peso das ilusões acalentadas - pára subitamente - tomado de surpresa pelo tilintar da campainha...!

24.11.06

Brasil...

Admirável Gado Novo (Zé Ramalho)

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter de demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Eh, ÔÔ, vida de gado
Povo marcado,
Povo Feliz

Lá fora faz um tempo confortável

A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que ficou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou

Eh, ÔÔ, vida de gado
Povo marcado,
Povo Feliz

O povo foge da ignorância

Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem este mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar

Eh, ÔÔ, vida de gado
Povo marcado,
Povo Feliz

19.11.06

Tetra...


É São Paulo...
É São Paulo...
Já é campeão!

18.11.06

Presidentes americanos...



Definitivamente, Lula pode ser equiparado a George W. Bush e Ronald Reagan como presidente de uma grande nação. Assim como o brasileiro, os dois presidentes americanos fizeram uma trajetória rica em gafes durante seus discursos (de improviso ou não). O governo do país anda uma merda, perdido em conchavos e troca de favores e sem rumo, mas o cara vai viajar para ver o amigo Chávez (isso, isso, isso) e ainda erra o país que visita. Ele deve estar com o Evo na cabeça.




Ridículo, mas erros acontecem, afinal ele também é humano. Mas dizer “...temos um sonho de fazer com que o Mercosul possa representar da Terra do Fogo à Patagônia todos os países latino-americanos” (sic) já é demais. O pior é ter de agüentar mais 4 anos deste cara e sua gentalha no governo e não ter a mínima idéia do que sobrará da nação, ou se sobrará.

12.11.06

Canções...

A Bela e a Fera Edu Lobo - Chico Buarque - 1982

Ouve a declaração, oh bela
De um sonhador titã
Um que dá nó em paralela
E almoça rolimã
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta

Não brilharia a estrela, oh bela
Sem noite por detrás
Tua beleza de gazela
Sob o meu corpo é mais
Uma centelha num graveto
Queima canaviais
Queima canaviais
Quase que eu fiz um soneto

Mais que na lua ou no cometa
Ou na constelação
O sangue impresso na gazeta
Tem mais inspiração
No bucho do analfabeto
Letras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto

Oh bela, gera a primavera
Aciona o teu condão
Oh bela, faz da besta fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela

6.11.06

No divã...

- ...Imagine agora uma onça. O que ela fez com você?
- A onça comeu minha alma.
- Foi?
- Foi.
- Como é que você sabe que foi uma onça que comeu?
- Por causa da mordida.
- Que outra parte de seu corpo ela abocanhou?
- Só a alma.
- Pensei que não se deixava marca na alma...
- Mas se deixa. É a parte que fica mais as marcas das coisas.
- Mordeu muito?
- Mordeu.
- Como você sentiu doer?
- Senti um aperto grande me esmagando por inteiro, depois veio o desfalecimento, porque como eu disse, a mordida foi grande, doeu e doeu pra danado, não morri porque alma não tem sangue senão eu teria morrido sangrando. Na verdade dói até agora.
- Você reagiu?
- Não.
- Por quê?
- Quis ver até aonde ela ia morder.
- Mas você sabia que ia doer?
- Sabia.
- Quando foi que ela te mordeu?
- Nem sei mais, um dia desses...
- Você estava sozinho na hora?
- Não lembro, mas ninguém me acudiu.
- ...
- Por que você calou?
- Estou com pena de você.
- Eu não preciso de pena, preciso de ajuda. Você é igual a todo mundo.
- Não sou!
- É.
- Fale-me mais dessa onça...
- Ela é uma onça comum, pintada, grande, fedorenta e tudo o mais.
- Anda?
- Anda não, corre.
- Porque ela comeu justamente a sua alma? Podia ter comido sua perna, seu braço...
- Porque ela quis comer a parte mais importante de mim, a parte que não tem prótese, nem remédio, a parte que não se cura.
- Meu diagnóstico é que você está com depressão.
- Mas eu não me sinto deprimido. Estou bem trabalho e tudo...
- Pois é... Mas uma onça assim comendo a alma das pessoas só ocorre em casos de profunda depressão.
- O que eu faço?
- Mata ela de tiro, tá aqui a espingarda.
E estendeu os braços oferecendo o peito para João abraçar.


texto de: Líria Nogueira Alvino

1.11.06

Para animar o dia...

... nada melhor que Mário Quintana em poesia...

Lili inventa o mundo...



Lili vive no mundo do faz-de-conta.
Faz de conta que isto é um avião, zum...
Depois aterrizou em pique e virou trem
Tuc, tuc, tuc, tuc...
Entrou pelo túnel chispando.
Mas debaixo da mesa havia bandidos.
Pum! pum! pum! pum!
O trem descarrilhou. E o mocinho? Meu Deus!
No auge da confusão, levaram Lili para a cama à força.
E o trem ficou tristemente derribado no chão,
Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.