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Guloseimas e pensamentos...

29.8.07

Concordo...

Os réus que faltaram
(Clóvis Rossi, in Folha de São Paulo de 29/08)

Ainda falta muita gente no banco dos réus armado pelas decisões do STF. Falta a intelectualidade chapa branca que cometeu o crime de corromper ativamente os fatos ao tentar transformar os réus em vítimas de uma conspiração da mídia que jamais existiu.

Se um funcionário nomeado por Lula, o procurador-geral da República, diz que há provas para processar a "organização criminosa"; se o Supremo Tribunal Federal, com maioria de juízes nomeada por Lula, diz que há indícios de peculato, corrupção ativa e formação de quadrilha, é escandalosamente óbvio que a única conspiração havida contra o governo Lula e o PT foi a conspiração dos fatos.
Falta também, no banco dos réus, a instituição PT. Aos fatos, preferiu aderir aos gritos debilóides de "conspiração/conspiração". Por isso, só puniu um dos réus de hoje, Delúbio Soares, como se fosse possível a uma só pessoa armar tanta "corrupção ativa".

Um partido que tem dois de seus presidentes (José Dirceu e José Genoino) e um punhado de quadros relevantes no banco dos réus estaria obrigado, se fosse sério, a dar explicações ao público. O PT vai continuar refugiado no silêncio covarde? Ou vai dizer que todos os ministros do STF fazem parte da tal conspiração que não houve? Ou vai simplesmente relaxar, gozar e incorporar a frase à estrela vermelha como seu novo dístico? Pela mesmíssima lógica antes exposta, faltam também, no banco dos réus, todos os parlamentares que votaram pela absolvição dos mensaleiros.

Sei que ser réu não significa necessariamente ser culpado do ponto de vista penal. Mas, do ponto de vista ético, todos já estão condenados com sentença transitada em julgado. Uns por confessarem caixa dois, que é crime. Outros denunciados pelo próprio presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao pedir perdão ao público.

28.8.07

Aqui se faz...

...aqui se paga?

Texto do meu amigo André Gomes, publicado no Portal da Propaganda
e que tenho certeza deliciará os que são publicitários ou tem contato com estes seres no seu dia-a-dia.

Aqui se faz, aqui se atende.

– Não gostei.
– Por quê?
– Porque não gostei, ué.
– Mas tem algum motivo?
– Tem. Sou o dono da agência. Só gosto do que eu quiser. Rasgue tudo e faça de novo! - gritou o velho tirano a um de seus criativos.

Era assim que ele tratava seus empregados. Objetivamente. E estava tão acostumado a esbravejar e assistir às pessoas sumindo intimidadas de sua frente que quase não acreditou no que viu. Pela primeira vez, alguém respondera a seu grito na mesma altura.

– Faça você, velho ranheta!
– O quê!?
– É isso mesmo, frustrado de quatro patas e um rabo escondido sob uma calça de grife cara! Vá dar patada na mãe!

A surpresa doeu forte. No peito. A vista escureceu. E o velho enfartou.

Quando abriu os olhos, estava em frente a uma grande escada rolante subindo, tão longa que era impossível enxergar o último degrau. A estrutura de metal e borracha sumia entre as nuvens. Ao seu redor, nada.

Mal deu o primeiro passo para cima, as nuvens ganharam a forma de grandes telas de projeção, freqüentadas por seqüências intermináveis de imagens difusas. Uma mãe estapeando uma criança, um adolescente perseguido por seus colegas, um jovem vendendo verdura.

– Mas... esse sou eu!

Enquanto subia, a vida do velho passava nas nuvens, projetada em cenas breves.

Viu ali sua infância triste, suas tentativas de trabalhar na juventude em uma grande agência da capital. Relembrou emocionado as tantas vezes em que bateu na porta dos diretores de criação e nada. Chorou mais uma vez em sua partida doída, magoada, para uma cidade menor, com um mercado menos concorrido.

Ele já nem lembrava de quando chegou a Ribeirão do Chavão, uma cidade perdida entre a Terra dos Triquestroques e a Serra do Trocadilho. Ali, as donas-de-casa iam ao supermercado para pagar um e levar dois. E nas promoções de vendas das lojas de eletrodomésticos, sempre dava a louca nos gerentes. Os açougues faziam aniversário e eram os fregueses quem ganhavam presentes. E nas compras a prazo, as entradas ficavam sempre para o ano seguinte.

Os empreendimentos imobiliários de Ribeirão do Chavão traziam sempre um novo conceito em moradia. Os shoppings eram sempre um novo jeito de fazer compras. No inverno, as lojas de roupas tinham sempre uma promoção para esquentar o frio. No verão, uma oferta para refrescar o bolso.

Quanto mais a escada subia, mais ele ia longe no passado sofrido. Relembrou os anos em que vendeu verdura até juntar o dinheiro para abrir uma agência de propaganda. E riu nas cenas em que ganhou a conta do circo e da quitanda. Orgulhou-se ao relembrar que multiplicou o faturamento dos dois. Depois vieram a padaria, o mercado, o açougue, o zoológico e todos os grandes anunciantes da cidade.

Em pouco tempo, fez carreira, fortuna e quinze filhos. Cada um com uma mulher diferente.

Depois voltou para a capital, abriu outra agência e a escada chegou ao fim. Uma voz retumbante quase estourou-lhe os tímpanos.

– Então, esta foi a sua vida? – perguntou a Voz.
– Foi, sim...
– Não gostei!
– Ai...
– Rasgue tudo e faça de novo!

E a Providência Divina mandou o velho de volta para a Terra. Mas não como dono tirano de agência. Ele teria uma segunda chance. Para pagar os pecados, voltou como atendimento.

20.8.07

Reflexões...



Seremos poeira em algum tempo
Mas seremos estrelas no firmamento.
O Adão perdido no espaço dos anos
Não significa mais como antanho.

Tumbas somos, se "vivermos" mortos
Porém portas abertas é certo,
Seremos, se estivermos atentos
Aos desvios do caminho e aos atalhos
Da vida em forma de erros e acertos.

Porém, meditação sem ação,
É como o amor, sem recíproca
É como estar, sem ser.
Deixa um gosto na boca
Que queremos esquecer!

18.8.07

O poeta e as palavras...



Há vinte anos, morria Carlos Drummond de Andrade, poeta que escreveu sobre tudo e
sobre a vida sobretudo...


"Eu sei que futebol é assim mesmo,
um dia a gente ganha,
outro dia a gente perde,
mas porque é que,
quando a gente ganha,

ninguém se lembra que futebol é assim mesmo?"


in "Quando é dia de Futebol", Ed Record


9.8.07

Livros e livros...

Meu amigo Ery, torcedor fanático do Coxa, me deu uma tarefa interessante e profunda: indicar os 5 livros que me marcaram a vida, ou que sejam meus favoritos ou enfim...

É engraçado fazer um exercício desses, pois já li tantos livros em minha vida e dependendo da época um marcou mais que o outro. Ele, em seu post, alinhou os 5 mais interessantes e marcantes, lidos recentemente. Foi uma forma de delinear o impacto recebido pelas obras no tempo/espaço pois sei que é um leitor ávido também. Mas apesar de gostar do método, resolvi fazer de forma diferente. Vou relatar 5 livros que por razões diferentes, foram importantes para mim, mas que não necessariamente foram mais importantes que alguns outros não citados abaixo:

O Príncipe, Nicolau Machiavel
A Divina Comédia, Dante Alighieri
O Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
A Rosa do Povo, Carlos Drumond de Andrade
Para Viver Um Grande Amor, Vinícius de Moraes

Gostei do formato escolhido no post de meu amigo, falar um pouco sobre cada uma das obras. Farei o mesmo, mas em posts distintos, porque do contrário, este post ficaria quilométrico.

Aproveitarei para indicar 5 amigos também e quem sabe eles se sintam incentivados a participar da brincadeira.

6.8.07

O Leão e o Rato




Depois que o Leão desistiu de comer o rato porque o rato estava com espinho no pé (ou por desprezo, mas dá no mesmo), e, posteriormente, o rato, tendo encontrado o Leão envolvido numa rede de caça, roeu a rede e salvou o Leão (por gratidão ou mineirice, já que tinha que continuar a viver na mesma floresta), os dois, rato e Leão, passaram a andar sempre juntos, para estranheza dos outros habitantes da floresta (e das fábulas). E como os tempos são tão duros nas florestas quanto nas cidades, e como a poluição já devastou até mesmo as mais virgens das matas, eis que os dois se encontraram, em certo momento, sem ter comido durante vários dias. Disse o Leão:

- Nem um boi. Nem ao menos um paca. Nem sequer uma lebre. Nem mesmo uma borboleta, como hors-d'oeuvres de uma futura refeição.

Caiu estatelado no chão, irado ao mais fundo de sua alma leonina. E, do chão onde estava, lançou um olhar ao rato que o fez estremecer até a medula. "A amizade resistiria à fome?" - pensou ele. E, sem ousar responder à própria pergunta, esgueirou-se pé ante pé e sumiu da frente do amigo(?) faminto. Sumiu durante muito tempo. Quando voltou, o Leão passeava em círculos, deitando fogo pelas narinas, com ódio da humanidade. Mas o rato vinha com algo capaz de aplacar a fome do ditador das selvas: um enorme pedaço de queijo Gorgonzola que ninguém jamais poderá explicar onde conseguiu (fábulas!). O Leão, ao ver o queijo, embora não fosse um animal queijífero, lambeu os beiços e exclamou:


- Maravilhoso, amigo, maravilhoso! Você é uma das sete maravilhas! Comamos, comamos! Mas, antes, vamos repartir o queijo com equanimidade. E como tenho receio de não resistir à minha natural prepotência, e sendo ao mesmo tempo um democrata nato e confirmado, deixo a você a tarefa ingrata de controlar o queijo com seus próprios e famélicos instintos. Vamos, divida você, meu irmão! A parte do rato para o rato; para o Leão, a parte do Leão.

A expressão ainda não existia naquela época, mas o rato percebeu que ela passaria a ter uma validade que os tempos não mais apagariam. E dividiu o queijo como o Leão queria: uma parte do rato, outra parte do Leão. Isto é: deu o queijo todo ao Leão e ficou apenas com os buracos. O Leão segurou com as patas o queijo todo e abocanhou um pedaço enorme, não sem antes elogiar o rato pelo seu alto critério:


- Muito bem, meu amigo. Isso é que se chama partilha, Isso é que se chama justiça. Quando eu voltar ao poder, entregarei sempre a você a partilha dos bens que me couberem no litígio com os súditos. Você é um verdadeiro e egrégio meritíssimo! Não vai se arrepender!

E o ratinho, morto de fome, riu o riso menos amarelo que podia, e ainda lambeu o ar para o Leão pensar que lambia os buracos de queijo. E enquanto lambia o ar, gritava, no mais forte que podiam seus fracos pulmões:

- Longa vida ao Rei Leão! Longa vida ao Rei Leão!


MORAL: Os ratos são iguaizinhos aos homens.

Texto e imagem: Millôr Fernandes, in Fábulas Fabulosas

2.8.07

Governo de merda...

Por pura indignação, transcrevo abaixo o texto da newsletter, O Furo, de Thomas Traumann (os grifos são meus)

A tragédia das rodovias

Entre 29 de junho e 29 de julho, 686 pessoas morreram em acidentes nas estradas federais – 15% a mais do que em 2006. Resultado claro do aumento do tráfego depois do caos aéreo. Escreve em O Globo a colunista Míriam Leitão: “por que não são feitos investimentos necessários para melhorar as estradas no Brasil que, em julho, mataram mais que o triplo de vítimas de acidente da TAM? Dinheiro há; possibilidade de fazer concessões há; chance de parceria com a iniciativa privada, também. Nada acontece, e pelo problema de sempre: o governo Lula não tem gestores públicos. Os cargos estão ocupados por quem pensa exclusivamente na próxima briguinha política”.

Thomas Traumann é colunista de política e chefe da sucursal da revista ÉPOCA no Rio de Janeiro. O Filtro é um guia para você navegar em meio à avalanche de informações do dia-a-dia.