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Guloseimas e pensamentos...

30.3.07

Não mereço isso...

A charge é de Angeli.

"Certamente o embaixador russo receber a notícia e certamente mandou para o presidente Putin, e certamente o Putin ficou meio putin com o Brasil."

Lula se referindo a uma denúncia de corrupção de autoridades russas por exportadores de carne brasileiros. Eu juro que não mereço um presidente destes... Só se compara ao Bush pelas besteiras que fala.


Tem dias...


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo...

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo...

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo...

Roda-viva - Chico Buarque /1967 para a peça Roda-viva de Chico Buarque

27.3.07

Tristeza da Lua...

Uma noite estranha e um início de dia mais estranho ainda. Achei que devia apelar para a poesia e escolhi o soneto "Tristeza da Lua" de Baudelaire para aplacar as bizarrices deste início de semana. Espero que gostem...



Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.

No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.

Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,

No côncavo das mãos torna essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no peito.

25.3.07

Dedos verdes...


O Dr. Milmales esperava Tistu atrás de sua grande mesa niquelada, repleta de livros.
- Então, Tistu - perguntou ele - que foi que você aprendeu? Que sabe de medicina?
- Aprendi - respondeu Tistu - que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. Aprendi que para a gente sarar é preciso ter vontade de viver. Doutor, será que não existem pílulas de esperança?
O Dr. Milmales ficou espantado com tanta sabedoria num garoto tão pequeno.
- Você aprendeu sozinho a primeira coisa que um médico deve saber.
- E qual é a segunda, Doutor?
- É que para cuidar direito dos homens é preciso amá-los bastante.

in Druon, Maurice. Tistu - O menino do dedo verde (Tistou Les Pouces Verts - 1957)

22.3.07

Vida e Poesia...


Vida e Poesia
A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.

Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
– Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinacão estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.

Texto de Vinícius de Moraes publicado em 1938, in Novos Poemas

Agradecimento especial a você pela ajuda na escolha desta imagem especial

20.3.07

Sem paciência...


O cara foi eleito em outubro, teve 2 meses inteiros antes de tomar posse para organizar seu próximo mandato. Levou três meses negociando e loteando cargos com sua base (ou seus cúmplices?) e na hora em que decide, acaba escolhendo errado.
A cada minuto que passa, mais vejo meu país regredindo com este governo insano e clientelista, preparando o terreno para o PMDB assumir a presidência em 2010 e o molusco voltar em 2014. Não dá para ter fé deste jeito. E ainda por cima com uma oposição incompetente e inepta.
Ai ai ai... o que será de nós? Desculpem-me pelo desabafo, mas a inspiração me esvai cada vez que leio as notícias políticas neste latifúndio.

16.3.07

Dizem que...


"Dizem que eu finjo ou minto tudo o que escrevo.
Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação."
Fernando Pessoa.
Foto World Express premiada em 2006.
Homem com sua hiena de estimação.

14.3.07

Dia da Poesia...



O Brasil comemora hoje, 14 de março, o Dia Nacional da Poesia, que propositalmente coincide com a comemoração do nascimento do escritor baiano Castro Alves, um dos principais poetas do Romantismo. Então deixarei aqui dois singelos textos meus.


Dans ce moment là

Dans ce moment là
Je veut, mais je ne peut pas
Je veut tuer quelq'un
Je veut mourir
Je tu veut, mais je ne peut pas.

Je envie de toi, mais me reste le soif
Je veut tes seins dans mes mains
Mais, ne me reste que rien,
Puisque je ne suis que rien.

Je voudrais rester touts mes jours avec toi
A cotê de toi, pour la defendre
La faire sourir et pour simplement a tenir
Mais j’eté jeté, donc…
Rien me reste

Je veut, mais je ne peut pas
Donc...
Je suis vide
Je veut, mais je ne peut pas
Donc...
Je sort!


Reflexões!

Seremos poeira em algum tempo
Mas seremos estrelas no firmamento.
O Adão perdido no espaço dos anos
Não significa mais como antanho.
Tumbas somos, se "vivermos" mortos
Porém portas abertas é certo,
Seremos, se estivermos atentos
Aos desvios do caminho e os atalhos
Da vida em forma de erros e acertos

Porém, meditação sem ação,
É como o amor, sem recíproca
É como estar, sem ser.
Deixa um gosto na boca
Que queremos esquecer!

UP DATE:
Mesmo quando não encontra tinta na própria pena, você traz isso:

"Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas.
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança."
(Thiago de Mello)




12.3.07

Reais e Cruzados...

“Povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.” A frase é batida mas serve de ponto de partida para Eduardo Bueno, jornalista gaúcho, escrever seus livros sobre a História do Brasil. Criticado por alguns historiadores, bem aceito pelos seus leitores. Depois de narrar em detalhes, e sempre de uma maneira bem-humorada, os períodos do descobrimento em A Viagem do Descobrimento, a formação das capitanias hereditárias em Náufragos, Traficantes e Degredados, e o doloroso fracasso de seus donatários em Capitães do Brasil, Bueno em A Coroa, a Cruz e a Espada, traça um panorama impressionante dos primórdios da América portuguesa, ao resgatar o período da criação do Governo Geral, primeira tentativa de colonização do Brasil feita com recursos da Coroa de Portugal. Leiam o trecho abaixo e vejam se se localizam no tempo:

“Havia duas moedas em circulação em Portugal no século XVI: o cruzado e o real. O cruzado pesava 3,5 gramas de ouro, era reservado para as grandes transações monetárias e valia 400 reais. O real era a moeda de conta – ou “dinheiro de contado”, como se dizia –, utilizado pela população no dia-a-dia. Por volta de 1580, o plural de real (até então “reais”) passou a ser grafado “réis”.

A seguir, alguns preços e salários (ou “soldos”, conforme a designação da época) praticados em Portugal e no Brasil no período abrangido por este livro. Por coincidência, os valores nominais são muito similares aos vigentes em 2006 no Brasil:

Menor soldo geralmente pago em Portugal:
360 reais por mês

Soldo médio de um pedreiro:
600 reais por mês

Soldo médio de um marinheiro:
900 reais por mês

Rendimentos de um escrivão:
40 mil reais por ano

Rendimentos de um corregedor de justiça:
170 mil reais por ano

Rendimentos do governador-geral Tomé de Sousa:
400 mil reais por ano

Rendimentos do provedor-mor Cardoso de Barros:
200 mil reais por ano

Soldo do “mestre de pedraria” Luís Dias:
72 mil reais por ano

Preço de uma dúzia de ovos (em Portugal):
7 reais

Preço de 1 litro de vinho (em Portugal):
13 reais

Preço de 1 quilo de farinha de mandioca (no Brasil):
8 reais

Preço de 1 quilo de carne de gado (no Brasil):
20 reais

Preço de uma enxada (no Brasil):
150 reais

Preço de uma espada (no Brasil):
450 reais

Preço da melhor casa de Salvador (em 1551):
80 mil reais

Preço de um terreno (22 metros de frente) em Salvador:
13 mil reais

Preço de uma nau (em Portugal):
2,5 mil cruzados (ou 1 milhão de reais)

in A Coroa, a Cruz e a Espada de Eduardo Bueno – Editora Objetiva – págs 20 e 21. Abaixo, foto de uma moeda de Real do período de D. João III, de Portugal.



8.3.07

08 de Março...

Um nome de mulher (Vinícius de Moraes)

Um nome de mulher
Um nome só e nada mais
E um homem que se preza
Em prantos se desfaz
E faz o que não quer
E perde a paz

Eu, por exemplo, não sabia, ai,
O que era amar
Depois você me apareceu
E lá fui eu
E ainda vou mais

in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"


Up date: é por essas e outras que existe o Dia Internacional da Mulher, sem elas estaríamos perdidos (clique aqui).

7.3.07

Similaridade...



Brasil de ontem e hoje

1970
Ame-o ou deixe-o (slogan do governo Médici)

2007
Quem não acredita no Brasil, vá embora!
(Lula em discurso no Pernambuco nesta semana)

1970
Esse troço de matar é uma barbaridade mas eu acho que tem que ser.
(Geisel em conversa com o General Dale Coutinho antes de ser presidente sobre a necessidade de torturar e matar os presos pela Ditadura).

2007
Muitas vezes a violência é uma questão de sobrevivência.
(Lula sobre a criminalidade que assola o país – Veja desta semana)

Agora só falta ele dizer que dividiremos o bolo depois que este crescer...

5.3.07

Ma chere et tendre...

Ontem assisti a um especial sobre Henri Salvador naquela programa trash do Drucker, Vivement Dimanche. Michel Drucker é um tipo de Hebe Camargo francês. Todo domingo ele apresenta um programa com atores e diretores de cinema e TV, cantores, políticos entre outras “celebridades” francófonas. Por vezes o programa é interessante, em outras uma verdadeira merda.

Quando me lembro, dou uma zapeada até a TV5 e se o entrevistado for interessante, acabo assistindo ao programa. Ontem o homenageado merecia atenção. Henri Salvador é um grande letrista e showman que veio da Guiana Francesa. Escreve desde besteiras açucaradas para programas televisivos à grandes poesias musicadas. Sempre de bem com a vida, largo sorriso e sonora gargalhada, Salvador vai desfiando os momentos de sua carreira, sempre com uma piada na ponta da língua. Inesquecível vê-lo recebendo uma medalha de honra de Chirac e louco para que a cerimônia acabe e ele possa jogar petanca nos jardins do Palace d’Élisée. Genial e cômico.

Quem tiver curiosidade de conhecer um pouco deste nonagenário elétrico, leiam a composição e vejam o clip no link abaixo.

Ma chere et tendre


Ici, ma chère et tendre
Les choses n'ont pas changé
Dans le sac et la cendre
J'ai presque tout laissé
Plus rien ne peut surprendre
Mon coeur envisagé
La vie, sans nous attendre
L'avait déjà tracé

J'avoue, ma chère et tendre
Que sans me renoncer
Dans le sac et la cendre
J'ai vu quelques regrets
Mais nul ne peut comprendre
Les hiers et le passé
Je ne rêve que de t'entendre
Je ne veux que t'embrasser
Ma chère et tendre...

Le temps d'un soir ou d'un jour de grand vent
Je me contenterai de voler des instants
Mon jardin vide est un bonheur solide
Je n'en dirai pas plus pour le moment

Ici, ma chère et tendre
Les choses n'ont pas changé
Dans le sac et la cendre
J'ai presque tout laissé
Plus rien ne peut surprendre
Mon coeur envisagé
Je suis prêt à t'entendre
Ma chère et tendre

1.3.07

Le ciel dans une chambre...


Le ciel dans une chambre - Carla Bruni / Gino Paoli

Quand tu es près de moi,
Cette chambre n'a plus de parois,
Mais des arbres oui, des arbres infinis,
Et quand tu es tellement près de moi,
C'est comme si ce plafond-là,
Il n'existait plus, je vois le ciel penché sur nous... qui restons ainsi,
Abandonnés tout comme si,
Il n'y avait plus rien, non plus rien d'autre au monde,
J'entends l'harmonica... mais on dirait un orgue,
Qui chante pour toi et pour moi,
Là-haut dans le ciel infini,
Et pour toi, et pour moi
Quando sei qui con me
Questa stanza non ha piu pareti
Ma alberi, alberi infiniti
E quando tu sei vicino a me
Questo soffitto, viola, no
Non esiste più, e vedo il cielo sopra a noi
Che restiamo quì, abbandonati come se
Non ci fosse più niente più niente al mondo,
Suona l'armonica, mi sembra un organo
Che canta per te e per me
Su nell'immensità del cielo
E per te e per me.
Et pour toi, et pour moi.