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Guloseimas e pensamentos...

11.3.10

Para viver um grande amor...


Para viver um grande amor - Vinícius de Moraes, in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.

15.6.09

E já que lembraram...


Aniversário (Álvaro de Campos)


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

15.5.09

Elle...



Faz tempo que não posto por aqui. Um pouco pelo volume crescente de trabalho (quanto maior a crise, mais se trabalha, para menos ganhar) e um pouco pela simples falta de inspiração. Por conta disso e para me animar um pouco mais, resolvi começar a fazer alguns textos relativos à França, em virtude do Ano da França no Brasil.

Para começar, faço um pano rápido, com uma imagem genial de Chagal, motivado por uma reportagem que vi nesta sexta, no Bom Dia Brasil, jornalístico matinal da TV Globo.

Mas primeiro, vamos a alguns fatos: 15 de maio, é a data oficial de inauguração da Torre Eiffel, obra bastante polêmica de Gustav Eiffel, inaugurada em 1889, para a Exposição Mundial que aconteceu na França e também para comemorar o primeiro centenário da Revolução Francesa. Hoje, 120 anos após sua inauguração, não há como imaginar a capital francesa sem este monumento.




Na matéria da Sônia Bridi nesta manhã chuvosa brasileira e de fim de primavera na França, a torre tinha sua história resumida e com a participação de alguns globais para emitir suas opiniões e blábláblá. Nem foi uma matéria fenomenal, mas durante o link, a Sônia chamou a atenção para uma cena meio comum no Champ de Mars: um casal de noivos chegando para tirar fotos de seu casamento junto à torre.

O quadro de Marc Chagal é “Les mariés de la tour Eiffel”, e penso que ele é auto-explicativo em relação a este post, apesar de ser extremamente complexo em sua construção. Mas deixarei a discussão sobre pintura, para os experts no assunto. Sou um leigo apreciador ou um apreciador leigo.



A torre é onipresente. Estejamos em Montmartre, na Île de France ou em La Défense. Ela olha por todos e é por todos percebida. Até mesmo pelos noivos de todos os dias...

Mais sobre ela no site www.tour-eiffel.fr

Abaixo deixo imagens de todos os tempos... basta clicar para vê-las expandidas.






9.4.09

Poética I


Vinícius de Moraes

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

27.3.09

Pré-google



Jutahy Magalhães (1929-2000), pai do deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA), estava em seu primeiro mandato na Câmara, em 1974, quando visitou Antas, onde havia sido muito bem votado. Edvaldo Nilo, líder da região, aproveitou para pedir ajuda. Seu projeto era levar uma agência bancária para o município baiano.

-Olhe, deputado, se o senhor conseguir isso, entrará para a história de nossa cidade, assim como aconteceu com o político que nos trouxe a agência dos Correios!

-E quem foi?-, quis saber Magalhães.

Nilo olhou para toda parte em busca de socorro, mas infelizmente ninguém sabia dizer o nome do benemérito.

Fonte: Painel Folha de São Paulo - 27/03/09

14.3.09

New...



Sorrio
Rio
Corrupio
Com um pio
Eu a espio
E fio
A seda e o fio
Da teia nova... o cio!

18.2.09

Terra devastada...

"In my many years I have come to a conclusion that one useless man is a shame, two is a law firm, and three or more is a congress."

"Em minha vida, eu cheguei à conclusão que um homem sem valores é uma vergonha, dois constituem uma firma de advocacia e três ou mais formam o Congresso."
John Adams – 2º Presidente dos Estados Unidos, um dos fundadores do país.



Resolvi voltar a postar, após um longo período de recesso. Andava meio cansado do mundo virtual, além de cheio de coisas para fazer no meu dia-a-dia, como por exemplo, entender a nova ortografia da Língua Portuguesa (confesso que até agora não aplico as novas regras corretamente, mas estou a me esforçar).

O motivo específico deste post é mais uma vez a desilusão com nossa sociedade, nossos políticos e nosso governo. As palavras de uma pessoa íntegra como o Jarbas Vasconcelos deveriam repercutir de forma mais intensa na sociedade. Ver o que é o PMDB hoje e compará-lo com sua história na época da Ditadura me dá tristeza. Pensar que o MDB e depois o PMDB já teve quadros como Teotônio Vilela, Lysâneas Maciel, Ulysses Guimarães; Barbosa Lima Sobrinho, Tancredo Neves, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas.

Os ainda recalcitrantes Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos mantém a ética e os ideais de social democracia da fundação do Partido. Hoje, o PMDB apresenta uma liderança composta por gente como José Sarney, Michel Temer, Jader Barbalho, Renan Calheiros etc. Pessoas às quais eu não daria a guarda de um chiclete mascado, quem diria da direção do País. E é isso exatamente que o Lula faz, ao distribuir cargos em troca de apoio. Puro fisiologismo.

Precisamos reagir, colocar esta cambada para fora do poder, eliminá-los no voto direto que é nossa arma. Chega destes tipos, pessoas não confiáveis, que só pensam no bem próprio. Do contrário, as palavras de John Adams, continuarão a prevalecer no Congresso brasileiro.

Para o conhecimento de quem estiver interessado:

Breve história - O MDB foi criado em 24 de março de 1966, como aglutinador das forças de oposição ao governo militar. Pouco antes, em 27 de outubro de 1965, havia sido decretado o Ato Institucional nº 2, que extinguia os partidos políticos e estabelecia eleições indiretas para presidente da República. Em fevereiro de 1966, decretou-se o Ato Institucional n.º 3, estabelecendo eleições indiretas, também, para governador. Nesse contexto é que se tornou possível a formação dos dois partidos no regime militar: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava o governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), oposicionista. O MDB foi criado em 24 de março de 1966, como aglutinador das forças de oposição ao governo militar. Pouco antes, em 27 de outubro de 1965, havia sido decretado o Ato Institucional nº 2, que extinguia os partidos políticos e estabelecia eleições indiretas para presidente da República. Em fevereiro de 1966, decretou-se o Ato Institucional n.º 3, estabelecendo eleições indiretas, também, para governador. Nesse contexto é que se tornou possível a formação dos dois partidos no regime militar: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava o governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), oposicionista.

No dia 15 de janeiro de 1980, durante reunião na Câmara dos Deputados, senadores, deputados e outros integrantes do MDB fundarem o PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro, tendo como primeiro presidente o deputado Ulysses Guimarães. Em 8 de junho de 1981, foi publicado no Diário da Justiça o registro definitivo do PMDB.

Em junho de 1988, alguns dissidentes (como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta, Magalhães Teixeira e Mário Covas), discordando do rumo que o partido tomava, formaram o PSDB, mas isso fica para outro momento.

ET: não sou afiliado ao PMDB, apenas acompanho a história do meu país.


É curioso ver o comentário do Josias sobre o PMDB em seu blog, na data de 24/01/2009.
Basta clicar aqui.