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Guloseimas e pensamentos...

26.5.06

Arte e dor...

Quando pequeno, mesmo morando em cidade de poucos habitantes no interior do estado, sempre me interessei pela Arte. Moleque ainda, mal chegado aos doze anos, mas me gostava muito das aulas de Educação Artística no SESI e me interessava por esse negócio de museus, pinturas, exposições, esculturas, música etc. Não entendia nada, mas do meu jeito, “lia” o que cada artista queria dizer a mim, sem ligar para o que a crítica dizia. Até porque eu não entendia patavinas do que eles diziam. Eu apenas via e interpretava como queria.

Sempre que possível ia a mostras e exposições dos mais diversos tipos, fossem em minhas cidades ou em cidades vizinhas. Para minha sorte, morava em uma cidade em que uma das cidadãs mais importantes era uma pianista. Guiomar Novaes, a maior intérprete de Choppin do Brasil. Por este motivo, ainda em vida, Guiomar foi homenageada na cidade com a criação de uma semana voltada à Arte: a Semana Guiomar Novaes.

O mais interessante era que esta Semana durava mais de uma semana. Para os adolescentes como eu, era uma festa. Entre outras peças eu vi “A ópera do malandro” no teatro; cansei de aplaudir o extraordinário maestro Eleazar de Carvalho quando regia a Sinfônica do Estado de São Paulo que ele mesmo fundou, Benito Juarez, com a Sinfônica de Campinas, Diogo Pacheco e suas piadas; vi, cantei e dancei com diversos shows de MPB; tive meus primeiros contatos com o significado de um cine clube e me maravilhei com o mundo dos curtas-metragens; participei de saraus literários e vi grandes companhias de ballet, como o grupo Corpo e o Ballet da Cidade de São Paulo.

Eu ficava bobo com tanta coisa diferente que me era apresentada e melhor ainda, gratuitamente. Confesso que me emocionava particularmente, cada vez que via Guiomar, com seus cabelos brancos pelo tempo, alquebrada pelo avanço da idade, mas com um sorriso enorme e cheio de vida.

Este “festival” de artes marcou minha adolescência e a juventude, ajudando-me a aumentar minha curiosidade pela coisa da arte e pelos artistas. Na época, eu sempre lia nos jornais e nas revistas semanais, matérias sobre um diretor de museu em São Paulo. Um cara que nem brasileiro era, mas que foi curador do Museu de Arte de São Paulo, o MASP. O italiano Pietro Maria Bardi, junto com sua esposa Lina Bo e com o apoio financeiro e político de Assis Chateaubriand, ergueram literalmente o maior museu do hemisfério sul.

A primeira vez que entrei naquele prédio de forma estranhamente moderna, fiquei alguns minutos olhando para todos os lados, como se quisesse distinguir um sonho da realidade. Grandes obras e grandes autores como os brasileiros Lasar Segall, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Portinari, e os internacionais Delacroix, Manet, Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Matisse, Modigliani, Marc Chagall, Rafael, Botticceli, Rembrandt, Velazquéz, Goya e Ticiano. Muita coisa bonita, uma história maravilhosa. Mais de 800 mil pessoas visitando por ano. Grandes exposições com sucesso total.


Agora, em alguns poucos anos, uma diretoria inepta, incompetente e amadora, para não dizer corrupta, consegue quebrar o museu e manchar uma história de mais de 50 anos.

Triste país, triste história, pobre futuro... Tudo e todos abandonados para conforto e gáudio de uma minoria.
A violência inaudita que invade nossos lares todos os dias, a pobreza imensa do interior deste país continente, a fome que grassa de diversas formas, a falta de cultura, a falta de educação básica, uma divisão de renda incredível e inaceitável...

Quando vejo tudo isso, a esperança quer bater asas.
Vontade de sumir daqui...
Voltar a ser criança para ter sonhos novamente.

21.5.06

Não sei...

Faltam-me as palavras,
E delas sinto falta.
O espaço vazio entre letras,
Exclamações e sílabas
Parece um precipício sem fim.

Abismo entre a ausência
E a distância que, cresce
A cada segundo vivido.

Trilhos percorridos e a percorrer
Que não indicam nada, apenas levam
A um destino desconhecido
Talvez, mas certo, enfim.

18.5.06

Tudo em transe...

"Percebeu o poeta John Ashbery que:

'Amanhã é fácil, mas hoje é inexplorado,
Desolado, relutante como toda paisagem
Em ceder as leis de perspectiva'.

Precisamos de alguma distância para desembrulharmos as linhas de uma época e emergirmos de seu imbroglio ideológico, enredados que estamos nos fios do presente, cujas pontas tateamos."

Assim começa o artigo de Viviana Bosi, onde ela analisa cinco poetas concretistas brasileiros. Vejam no link abaixo e se puderem comprem a Cult, pois vale a pena.

16.5.06

Atitude...

A ajuda oferecida pelo Governo Federal ao Governo de São Paulo, foi o tipo da ação onde um não podia oferecer o que não tinha e o outro não podia receber porque não resolveria a questão. Balela para ficar na mídia e posar, um de bonzinho e o outro de poderoso. Mais uma vez usaram uma crise séria para tentar tirar dividendos políticos.



Os dois erraram e daqui um mês, quando a seleção brasileira tiver passado pela primeira fase da Copa do Mundo, toda a tensão vivida pelo povo paulista; todas as lágrimas derrubadas pelas famílias dos mortos; todos os ônibus destruídos; e todos os feridos estarão esquecidos. Seremos novamente reféns dos incompetentes e corruptos, que permitem o domínio da sociedade por corruptores, ladrões e assassinos.



No segundo semestre teremos as eleições e precisamos estar atentos em quem votar. Não dá para confiar em quem entrega parte do país à Bolívia e ao Chaves. Não dá para confiar em gente que compra deputados e senadores para aprovar leis que beneficiem a um determinado grupo político. Não dá para votar em deputados e senadores que se vendem, enfiando dinheiro na cueca, em malas, nos paletós, no...



Precisamos de atitude! Se não há o impeachmeant, que não permitamos a reeleição de corja de mal intencionados. O país está entregue, todos os mercados estão em baixa, as indústrias demitindo, as vendas caindo, nossa agricultura amargando prejuízo após tantos anos de recordes de produção e venda. A situação é grave e só não vê quem colocar uma venda nos olhos ou não quiser enxergar.



Precisamos agir, precisamos mudar, precisamos de atitude!
Chega destes bastardos transformando nossas vidas num inferno sem fim.

Fotos: folhaonline

14.5.06

Desgoverno...

Neste final de semana eu viajei para a casa de meus pais e na volta passei pela capital. Vi algumas coisas que chocaram-me: ônibus pegando fogo, viaturas à toda velocidade por toda marginal, postos da Polícia Militar guardados por policiais, barricadas armadas... Meu irmão é PM e chegou a ligar para casa no sábado à noite, nos alertando para tomarmos cuidado ao abrir a porta, caso não estivéssemos esperando alguém.


Insegurança, tristeza, desconsolo, desesperança e raiva foram alguns dos sentimentos que perspassaram minha alma neste final de semana. Um país desgovernado em todos os escalões, cheio de corruptos nos cargos públicos, cheio de impunidade, achincalhado pelos países vizinhos; com um povo sem instrução, abandonado pelo poder público, sem esperanças, sem brilho, sem comida, sem futuro, sem emprego...

É difícil encontrar forças para continuar na luta. Ouço pessoas falando da Ditadura com saudade. Que não é possível tudo continuar com a Imprensa tão livre assim etc etc.

Mas me pergunto se essas pessoas não têm razão de assim agir e pensar, afinal, quando temos esta imagem dos presos em rebelião pedindo paz, penso que a hipocrisia é dona do mundo.


Me desculpem o mau humor, mas estou sem vontade de sorrir.

12.5.06

Saudade...

9.5.06

Vive l'Europe

5.5.06

Lindo e triste país...

Engraçado como são as coisas. Nos início dos noventa uma frase estampou todas as manchetes no país: o tempo é o senhor da razão. Esta frase foi proferida pelo então presidente da República, Fernando Collor de Mello ao se defender das críticas e acusações de corrupção. Antes que alguém me interprete erroneamente, não, eu não penso que ele era inocente, mas infelizmente nunca conseguimos provas reais da culpa. Um dia ainda espero que a verdade seja confirmada.

O que me remeteu a esta frase, foi a situação vivida por alguns personagens de nossa vida política e pública, mais especificamente, o atual Presidente da República; seu antigo “1° ministro”, José Dirceu; o ex-presidente do PT, José Genoíno; o jornalista Franklin Martins entre outros. Todos sempre disseram ter um passado limpo, de “luta” contra a Ditadura Militar, contra a corrupção dos governos, contra as “malévolas” empresas multinacionais que aqui se instalaram etc.

Hoje, todos estes “campeões da honestidade” estão na berlinda acusados de corrupção, improbidade administrativa, falsa ideologia, nepotismo, tráfico de influência etc.

O mundo mudou? Os conceitos mudaram? Ou eles não são mais os mesmos? Sei lá, como diria Aparício Torelli, o Barão de Itararé, : "Certos políticos brasileiros confundem a vida pública com a privada."

Faço coro a Toquinho no player...

Lindo e Triste Brasil
(Toquinho – 1989)

Sou nascido aqui nesse país.

Tão gigante, tão franzino,
Seu destino ao deus-dará.
Rios e fontes aos montes
E dunas de areia em beiras de mar.
Tudo aqui é mesmo tão lindo, morena,
Pena que o homem não pensa em cuidar.
A solidão é viver sem ninguém
Em quem poder confiar.

Minha gente é gente desse país.

Povo lindo, chora rindo, canta na Sapucaí.
Entre enredo e passista
Misturam-se médico, artista e gari.
Com muito pouco que temos
Ainda sabemos, sofrendo, cantar e sorrir.
Sou do país do futuro,
Futuro que insiste em não vir por aqui.

Somos muitos e muito podemos fazer.

Vai rolinha, pintassilgo,
Vai andorinha e tiziu.
Nadem golfinhos e peixes
Nas águas dos mares, dos lagos, dos rios.
Quem sabe ainda veremos
O que o Poetinha um dia sonhou mas não viu:
Pátria, minha patriazinha, tadinha,
Lindo e triste Brasil.


O cara ainda posa para fotos no trem da empresa privatizada, enquanto promete não reagir à expropriação de nossos bens na Bolívia (afinal de contas, como contribuinte também sou sócio da Petrobrás).

2.5.06

Dia-a-dia...

Cotidiano n°2 Vinicius de Moraes / Toquinho

Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar
Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

© Tonga Editora Musical LTDA