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Guloseimas e pensamentos...

2.4.07

Milonga e Malvinas...


“...Él sólo quería saber
si era o si no era valiente.

Lo supo en aquel momento
en que le entraba la herida.
Se dijo no tuve miedo
cuando lo dejó la vida”.

Trecho final do poema "Milonga de un soldado", de Jorge Luis Borges.

Há 25 anos, eu servia ao país (eu era "reco", "milico", "periquito", "pé de alface", "praça", "atirador", "infante" etc.) Ou seja, eu estava no Tiro de Guerra. Mal tinha terminado o colegial e aos 17 anos eu já estava alistado no Exército a fim de encurtar meu caminho para a universidade.

Estou envelhecendo, o sei bem. Os anos vão passando, as histórias acontecendo, a maturidade aumentando. Não, não estou na terceira idade e nem caquético. Eu poderia ter escrito estas frases quando tinha 25 anos e teria o mesmo efeito, pois eu amadurecia e crescia. Nós todos sabemos que esta evolução física e mental é natural. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos... Uia, mas porque estou falando disso?
Nada de filosofar sobre a vida e a morte, a idéia deste post é falar de outra coisa: os 25 anos da Guerra das Malvinas ou Falkland War. Guerra esquisita, sem pé nem cabeça, reflexo de uma ditadura decadente em busca de uma sobrevida e de uma primeira ministra correndo o risco de perder o poder. Bom, de qualquer forma, toda guerra é a luta pelo poder, seja no local onde ela ocorre ou no país de quem participa dela.

Não pretendo discutir os meandros desta guerra, estúpida como todas, que começou em 02/04/1982 e terminou em 14/06 do mesmo ano. Uma disputa idiota, por um pedaço de terra gelado e sem grande importância estratégica, mas que aos vencedores permitiu a continuidade do governo de Thatcher e suas políticas de economia liberal para a Grã-Bretanha e aos perdedores, a queda do governo ditador de Galtieri, que acabou levando nosso país vizinho às urnas em 1983.

O curioso para mim desta lembrança toda é o que passava na cabeça dos jovens "recos" interioranos que temiam a entrada de nosso grandioso país nesta guerra besta. Por incrível que possa parecer (não se esqueçam que também vivíamos sob as hostes da ditadura militar), o nosso Exército deixou todas as unidades de sobreaviso, pois havia a possibilidade do envio de tropas para o sul do continente em apoio "a los hermanos" e nós, simples militares temporários poderiam assumir quadros junto aos quartéis espalhados no Brasil.

Lógico que tudo isso era fantasia, ou de nossos capitães ou do comando geral dos Exércitos. Não iria acontecer isso, não estávamos preparados para tal ação e nem haveria necessidade do uso de tanto efetivo para uma ação destas.

Mas que o calafrio de uma participação numa possível guerra perpassou por minha coluna...
Milonga para um soldado
Jorge Luis Borges - Tradução Hector Zanetti

O hei sonhado nesta casa,
entre paredes e portas,
Deus permite que os homens
sonhem coisas que são certas.

O hei sonhado mar afora,
em umas ilhas glaciárias,
que não digam os demais
o túmulo e os hospitais.

Uma de tantas províncias,
do interior foi sua terra,
não convém que se saiba
que morre gente na guerra.

O sacaram do quartel,
Puseram-lhe nas mãos
as armas e o mandaram
a morrer com seus irmãos.

Ouviu as balas arengas
dos vãos generais,
viu o que nunca havia visto,
a neve e as areias.

Ouviu vivas, e ouviu morras
ouviu o clamor da gente,
ele só queria sabers
e era ou não era valente.

O soube naquele momento
em que lhe entrava a ferida,
se disse não teve medo,
quando o deixou a vida.

Sua morte foi uma secreta vitória
ninguém se admire que me dê inveja e pena
o destino daquele homem.

Ouviu as balas arengas
dos vãos generais,
viu o que nunca havia visto,
a neve e as areias.

Ouviu vivas, e ouviu morras
ouviu o clamor da gente,
ele só queria saber
se era ou não era valente.

O soube naquele momento
em que lhe entrava a ferida,
se disse não teve medo,
quando o deixou a vida.

Este poema foi escrito por Borges para os combatentes nesta guerra estúpida. Quem tiver interesse na versão original em espanhol, pode clicar aqui.

1 Comments:

Blogger Cintia Guarnieri said...

Embora seja de uma família de militares, nunca entendi os motivos internos de uma guerra, os políticos sim e até os religiosos e filosóficos, mas não os internos, o que leva o homem a levantar a primeira espada ou atirar a primeira bala, será que somos tão programáveis assim ou é o medo denovo mostrando sua face mais desfigurada, o medo que se olhando no espelho não se entende e se auto flagela?

Espero não estar em nehum dos flancos.
Abraço

4 de abril de 2007 às 11:22  

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