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Guloseimas e pensamentos...

4.5.07

Nadie Es Perfecto...

Meus amigos, ao freqüentar este meu blog, já sabem que gosto muito de cartuns e charges. Nos anos 70, o cartunista Jaguar, um dos editores do Pasquim, foi um expoente deste tipo de humor, que reúne inteligência e perspicácia. Há alguns dias, ele deu uma entrevista à Folha de São Paulo que achei bastante interessante e abaixo resolvi postar alguns trechos.

FOLHA - Como anda o cartum?

JAGUAR - O cartum é uma espécie em extinção. Tem muita gente publicando história em quadrinhos, charges, caricaturas. Não é a mesma coisa. Sou cartunista, mas sobrevivo fingindo que sou chargista. Se não, não pago as minhas contas.

FOLHA - Qual é a diferença essencial entre cartum e charge?

JAGUAR - Simples. Por exemplo. Hoje fiz uma charge sobre a visita do Bush. Desenhei o Lula chamando o Bush, que está indo embora do quadrinho. Só aparecem os pezinhos dele. Lula estica o dedo e chama: "Ei, ô companheiro, e a saideira?". Isso é uma charge. Uma piada que, daqui a cinco anos, ninguém vai entender, porque é em cima de uma circunstância.

FOLHA - E o cartum?

JAGUAR - É um troço que você faz sobre assuntos que daqui a 20 anos qualquer um entenderá. Um exemplo clássico, uma piada qualquer sobre o "Ricardão dentro do armário". Todo mundo sabe do que eu estou falando. Piadas sobre vida conjugal, sexual, todo mundo entende. Em qualquer época. Já piadas em cima de fatos políticos momentâneos vão ficando incompreensíveis.
O cartum está morrendo, o "Pasquim" não foi assim tão influente e o mundo anda ficando sem graça. Apesar de fazer diagnósticos tão alarmistas, o humorista Jaguar não se diz um nostálgico. "Nostalgia é coisa de velho gagá", diz. O humorista avalia que a vida do "Pasquim" poderia ter sido mais curta, pois o jornal foi perdendo influência e tiragem. "Devia ter ido cuidar da minha vida, mas insisti de teimoso, de burro."

FOLHA - Houve um retrocesso no humor brasileiro com relação aos anos da ditadura?

JAGUAR - Sim. Essa coisa de não poder chamar crioulo de crioulo, por exemplo. Fui casado dez anos com uma crioula. Não é pejorativo. Não vou começar a dizer que casei com uma afro-descendente. É uma hipocrisia.Mas a maioria dos humoristas hoje é muito certinha. Criou-se um limite e, se a gente passa um pouco, leva pito. Eu não levo mais porque sou velho e sou o Jaguar. Aí as pessoas dizem: "Ah, é o Jaguar, deixa ele".


Aos 75 anos e ainda freqüentando de modo assíduo os botequins do Rio -e os da cidade onde estiver-, Jaguar encontrou a Folha num tradicional restaurante da rua São José, no centro da cidade, na tarde da última sexta-feira. O motivo da entrevista é o fato de ele estar agora à frente da coleção de humor da editora carioca Desiderata, publicando novos cartunistas e gente da época do "Pasquim", incluindo ele próprio. Entre os lançamentos vindouros, um livro de cartuns que ele havia publicado apenas na Argentina, há mais de 30 anos, e do qual não lembrava mais. "Voltei para o Rio, cai na gandaia, e esqueci dele." O título, sugestivo, é "Nadie Es Perfecto" (ninguém é perfeito). Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

Entrevista concedida à SYLVIA COLOMBO
Os cartuns deste post foram retirados deste link, onde se encontra mais informações sobre o autor.