Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

22.1.06

Folhas na relva...

Canção de mim mesmo (Walt Whitman, in Folhas na Relva)

"Walt Whitman, americano, um bronco, um kosmos,
Agitado corpulento e sensual....comendo e ebendo e procriando,
Nada sentimental....alguém que não se põe acima dos outros homens e mulheres
Nem deles se afasta....nem modesto nem imodesto.

Arranquem os trincos das portas!
Arranquem as próprias portas dos batentes!

Quem degrada uma pessoa me degrada....e tudo que se diz ou se faz no fim volta pra mim,
E o que faça ou diga volta pra mim
A inspiração surgindo e surgindo de mim....por mim a corrente e o índice.

Pronuncio a senha primeva....dou o sinal da democracia;
Por Deus! Não aceito nada que não possa devolver aos demais nos mesmos termos.

Por mim passam muitas vozes mudas há tanto tempo,
Vozes das intermináveis gerações de escravos,
Vozes das prostitutas e pessoas deformadas,
Vozes dos doentes e desesperados e dos ladrões e anões, (...)

Por mim passam vozes proibidas,
Vozes dos sexos e luxúrias....vozes veladas, e eu removo o véu,
Vozes indecentes, esclarecidas e transformadas por mim.

Não cruzo od dedos sobre a boca,
Cuido bem dos meus intestinos tanto quanto da cabeça ou do coração,
A cópula não é mais indecente que a morte.

Acredito na carne e nos apetites,
Ver e ouvir e sentir são milagres,
Como é milagre cada parte e migalha de mim."





Fico imaginando o impacto destas palavras de Whitman sobre a sociedade americana há 150 anos, às vésperas da guerra civil e no pior momento da escravidão no país. A vida pessoal do poeta é obscura, pouco se sabe e em minha opinião pouco importa, pois o que conta a força descomunal de seu texto. Temos no Brasil desde o ano passado uma tradução muito bem feita do livro Folhas da Relva, onde encontraremos o poema Canção de mim mesmo completo, com suas 44 páginas de celebração da individualidade em contraponto à celebração das massas. Ele foi chamado de poeta da Democracia...