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Guloseimas e pensamentos...

29.12.05

Que venha o novo...

... enquanto o velho se esvai, mesmo que lutando contra e acrescentando segundos. Trouxe nos: corrupção, desencanto, dor, desilusão, sonhos, cor, desejos, mortes, realizações, desastres e acertos...
Tudo se repete a cada ano, mas sempre desejamos novamente o melhor para o porvir e assim nos repetimos numa incansável (ou seria infindável) roda viva...
Despeço-me do ano nas palavras de Vinícius, com excertos de "Toadinha de ano novo", escrita em 01/01/1965 e publicada no livro Para uma menina com uma flor:

"E foi-se o ano – ano bissexto arrenegado! – ano ruim, ano safado, ano assim nunca se viu! Levou Aníbal, levou Antônio Maria, levou tanta poesia com Cecília que partiu... Levou Ari e levou Álvaro Moreyra (nunca vi ano bissexto pra fazer tanta besteira!). E não contente – eta aninho contundente! – ainda deixa pra semente tanto estorvo pro Brasil!... Ano pior só fazendo de encomenda: depois da morte de Kennedy, até Kruchev caiu."
"De qualquer modo resta o tomara-que-seja; resta o que a gente deseja, como diz o amigo Guima. E a esperança é uma mulher tão à mão, que é até ingratidão a gente não dar-lhe em cima. Por isso, amigos, que este ano recém-nato, ao contrário do transacto, lhes chegue de fraldas limpas; e vocês tenham um milhão de coisas boas e possam ver suas pessoas num espelho mais bonito.Que vocês tenham mais Jobim e mais Caymmi; mais paixão e menos crime; mais Zé Kéti e Opinião."
"Que vocês tenham mais Drummond e mais Bandeira, e eles deixem de leseira e venham mais para a rua."
"Que nasçam poemas, nasçam canções, nasçam filhos; e se terminem os exílios e se exerça mais perdão. E brotem flores das dragonas militares e não mais se assustem os lares com esses tiros de canhão. Que todos se unam, se protejam, apertem os cintos; se reúnam nos recintos com esperança brasileira. E que se dê de comer a quem não come, porque o povo passa fome: e a Fome é má conselheira... Que o Rei Pelé faça gols por toda parte; e Di Cavalcanti, arte; e o Congresso, leis honestas. E Rubem Braga escreva crônicas lindas; e o Poder crie mais Dimas do que tem criado Gestas.E – que diabo! – que eles voltem, meus pareceiros... Estão todos no estrangeiro. Que fazem vocês aí? Voltem depressa, venham logo para casa, que é pra gente mandar brasa ao som do Quarteto em Cy. E finalmente que eu, pequeno mas decente, siga sempre para a frente com meu amor ao meu lado. E ela me dê no mais próximo presente, o presente de um futuro sem as dores do passado."

01.01.1965