Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

15.4.05

Injúria Qualificada...


Eu falo muito palavrão, decididamente falo muito...
Se meu time ganhar, eu xingo de contentamento; se perder, lá vem palavrão; se tomar uma fechada no trânsito, novos xingamentos; se receber uma notícia ruim, coisas cabeludas ecoam de minha boca; uma notícia ótima chega ao meu ouvido, um palavrão de exclamação é ouvido...

Assim caminha minha mediocridade. Que fazer, assim sou. Quem me conhece e convive comigo, sabe do que estou falando. Mas foram raríssimas as ocasiões onde meu jeito de expressar ofendeu alguém de verdade. Normalmente funciona mais como um desabafo íntimo. Sei que às vezes deve parecer grosseria, mas juro que me contenho, quando estou na presença de menores de 5 anos, afinal, os que têm mais que esta idade, falam coisas piores que eu.

É lógico que quando vou jogar meu basquete acabo soltando palavrões, mas geralmente o alvo sou eu mesmo. Acho que devo treinar mais... Num jogo esportivo, a provocação acontece o tempo todo. Um zoando com o outro. A gente brinca, zoa, xinga, faz mímica, mas sempre acaba tudo por aí. Mas, apesar deste defeito de caráter que possuo, nunca mandei ninguém enfiar uma banana no c* e nem chamei nenhuma pessoa de macaco, preto, macaquito, negrinho, pobre, careca, gordo...

Isso para mim é sinônimo preconceito e de racismo sim e muito bem fez o jogador ofendido em prestar queixa. Também acho que houve exagero do delegado na forma de dar voz de prisão ao jogador, mas não no ato da prisão, afinal havia uma queixa e obviamente houve uma provocação que passou dos limites do “campo esportivo”.

Preconceito é um veneno que está imiscuido na sociedade, aparecendo nos atos mais simples e corriqueiros do dia a dia. Quem já sentiu isso na pele pode compreender exatamente as razões do jogador Grafite.

E quem não concordar comigo que fique à vontade para me xingar, apenas não peçam para eu fazer nada com banana além de digerí-las pelos órgãos adequados.

O poeta Hélio Consolaro escreveu:

O branco não atrai
Como o preto avança.
Na luta das cores
Ele sai maculado.
O cinza são os destroços.


(Poema “Uma fraqueza do branco”, in O sorriso é uma palavra, Blocos Editora, RJ, 2000 - p. 18)

O crítico Célio Pinheiro escreveu sobre este poema: “Retrato de um mergulho social: a incoerência de humanos entre devorando-se. A mensagem implícita nessa estranha sonoridade é de difícil apreensão; mas é séria, forte. Tão forte como este rápido mas intenso olhar nas diferenças sociais cromatizadas em preto e branco.”


Assino embaixo!