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Guloseimas e pensamentos...

5.4.06

Perguntas e Respostas...

Abaixo coloco trechos de uma entrevista de Adélia Prado ao Jornal do Commércio, de Recife, em Pernambuco e que foi publicada na edição de 05/04/06. Os destaques em negritos são meus.

JC – Seu novo livro, Quero minha mãe, é uma narrativa sobre a angústia diante da perspectiva da morte. Como católica, a senhora não acha que o catolicismo tem uma visão bastante dolorosa da morte? Por sinal, como Adélia Prado lida com a idéia da morte?

APA morte é dolorosa e assustadora em e para qualquer cultura ou confissão religiosa. Para qualquer homem é ela “o último inimigo” a ser vencido. Tudo é por causa dela, a arte, a filosofia, a religião. A fé católica, como fé cristã que é, tem uma resposta de consolação e esperança quando fala da morte como passagem para a vida plena, quando anuncia a ressurreição da carne, quando faz da ressurreição de Cristo a pedra sobre a qual se edifica nossa fé. Assim lido com a morte, com temor, tremor e esperança. Quero chegar aonde chegou São Francisco, que a chamava de “irmã, nossa irmã”, a morte corporal.

JC – A senhora começou a escrever poesia após a morte da sua mãe. Como é que essa experiência pessoal passou para o texto?

APA experiência pessoal só vale se transfigurada pela metáfora. Caso contrário, estaríamos fazendo depoimento e não literatura.

JC – A senhora já se referiu à poesia como uma experiência religiosa. A senhora acredita em inspiração divina na hora de escrever ou mesmo que a poesia seja um esforço de planejamento humano?

AP – Esforço de planejamento humano é construir pontes, limpar rios poluídos, capinar, rachar lenha. Na poesia, sem ‘inspiração’ fica só o esforço, o andaime, a ferramenta. A poesia vem do alto, a beleza não é fruto de “esforço”.

JC – Uma das marcas da sua literatura é extrair poesia das situações mais banais da vida. Qual o segredo para achar poesia no cotidiano, na repetição da vida?

APSegredo? O mistério de uma batata na cozinha é inesgotável como a rota dos astros. É só abrir os olhos.

JC – Um dos seus poemas diz: “Um homem do mundo me perguntou/ o que você pensa do sexo?/ Uma das maravilhas da criação eu respondi.” Muitos dos seus poemas falam de sexo, de prazer. E para algumas pessoas, de uma maneira que não combina com a poeta que fala de Deus, do sagrado. Essa imagem de poeta-católica que muitas vezes lhe é atribuída, chega a incomodar?
AP - Tirar o sexo de Deus e do sagrado é desvitalizar as experiências. Nada, mas nada mesmo, está fora da realidade suprema que chamamos Deus. A poesia não é católica, é divina, isso explica a questão. Ser poeta católica é ser uma poeta com sérias restrições. Acredito que sou uma católica poeta. Deus me ajude.

JC – Por falar da visão que as pessoas costumam ter sobre sua poesia, qual a sua opinião, por exemplo, quando dizem que muitas vezes sua poesia fala de uma mulher submissa, que espera o homem em casa?

AP – Minha opinião é: quem pensa assim não entendeu nadinha da necessidade que temos nós mulheres de ocuparmos, para nossa alegria (e do homem ), o segundo lugar.

JC – Para a senhora, o amor pede submissão?

AP - Se você está usando submissão como sinônimo de entrega, a resposta é sim.

JC – As pessoas confundem muito a Adélia Prado-escritora e a Adélia Prado-pessoa?

AP – Confundem sim e é natural. Largamos, queiramos ou não, nossas pegadas no que fazemos. A obra leva o ‘DNA’ do autor. É nossa condição humana, limitada.

JC – A senhora não é muito chegada ao social do mundo literário, isso é uma espécie de proteção? Por sinal, a senhora já pensou na Academia Brasileira de Letras?

APEu sou muito caipira. Acho que isto me protege sim. Quanto à academia, gosto mais de café que de chá.