Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

9.8.05

Curiosidade...

Todos os vencedores em suas respectivas áreas têm alguma história pitoresca ou engraçada ou ainda uma gafe que tenha vivenciado no início de sua carreira (com exceção do Roberto Justus que pensa ser um deus). Marília Gabriela em uma descontraída entrevista ao pessoal do Pânico, no programa radiofônico contou a sua maior gafe. Ela que já entrevistou rei, presidentes, políticos, cantores, jogadores foi pisar na bola logo com um compositor de músicas sertanejas, o gaúcho Teixeirinha.
Teixeirinha foi o autor da música que individualmente mais vendeu discos no Brasil, 25 milhões desde seu lançamento em 1959: Coração de Luto. A música foi lançada num compacto simples de 78 rpm e vendeu no ano 1961 mais de um milhão de cópias (dá para imaginar isso no Brasil dos 60?).
Pois bem, mas como tudo neste tropical país acaba em piada, de cara apelidaram a música por Churrasquinho de Mãe (ao ler a letra abaixo, vocês entenderão o humor negro deste apelido). Ao entrevistar o autor, a loira Gabi se confundiu e em vez de falar Coração de luto, fez uma pergunta sobre o fenômeno que havia sido a música, usando o apelido maldoso. O resultado disso foi o autor ter se magoado e sentir ofendido, explicando que a música tinha sido uma homenagem à própria mãe, que morrera queimada quando ele tinha 9 anos. Fecha o pano.

Coração de Luto - Teixeirinha - 1959

O maior golpe do mundo que eu tive na minha vida
Foi quando com nove anos perdi minha mãe querida
Morreu queimada no fogo morte triste e dolorida
Que fez a minha mãezinha dar o adeus da despedida

Vinha vindo da escola quando de longe avistei
O rancho que nós morava cheio de gente encontrei
Antes que alguém me dissesse eu logo imaginei
Que o caso era de morte da mãezinha que eu amei

Seguiu num carro-de-boi aquele preto caixão
Ao lado eu ia chorando a triste separação
Ao chegar no campo santo foi maior a exclamação
Taparam com terra fria minha mãe do coração

Dali eu saí chorando por mão de estranho levado
Mas não levou nem dois meses no mundo fui atirado
Com a morte da minha mãe fiquei desorientado
Com nove anos apenas por esse mundo jogado

Passei fome, passei frio por esse mundo perdido
Quando mamãe era viva me disse, filho querido
Pra não roubar, não matar não ferir sem ser ferido
Descansa em paz minha mãe eu cumprirei seu pedido

O que me resta na mente minha mãezinha é teu vulto
Recebas uma oração deste filho que é teu fruto
Que dentro do peito traz o seu sentimento oculto
Desde nove anos tenho o meu coração de luto

Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, nasceu em Rolante, no interior do Rio Grande do Sul, em 3 de março de 1927. Na infância viveu dois dramas que o marcariam profundamente: aos seis anos a morte do pai de ataque cardíaco, e aos nove a morte da mãe, que durante uma crise de epilepsia caiu sobre o fogo que ateava em folhas à beira do rancho da família - a história que emocionaria multidões por meio da música citada. Produziu e escreveu filmes, teve 3 programas de rádio e gravou 49 discos em toda sua carreira. Foi sem dúvida um grande sucesso popular em toda a sua vida e morreu em dezembro de 1985, aos 58 anos.