Bombonière Delikatessen

Guloseimas e pensamentos...

28.8.05

Botequeando...

É fato que em mesa de boteco se debate de tudo e há soluções para todos os problemas do mundo, quiça do universo. Lá se fala da vida alheia, se enaltece os ídolos, se execra os políticos nacionais ou internacionais, se engrandece os próprios feitos, se discute as teses de pesquisa de todas as áreas, se defende ideais (sejam quais forem) e muito mais. Penso que deva ser um dos lugares mais democráticos do mundo. Ah, e isso não ocorre somente no Brasil, é um fenômeno mundial.
Na agência temos todo o tipo de pessoas e há uma certa divisão de happy hour: a turma do bilhar, a turma da família, a turma dos "intelectuais", a turma da molecada etc. Eu transito em todas, então posso ficar observando e analisando cada uma delas. É divertido ver o papo que rola em cada uma delas.
Noutro dia, na turma dos "intelectuais", entre a discussão sobre o preconceito racial que existe no Brasil e sua relação com o início do capitalismo no país, começamos a falar sobre algumas personalidades nacionais e a quem colocávamos como especiais e dignas de idolatria, veneração, reconhecimento, gratidão, asco, inveja etc. Muitos nomes foram citados: D. Pedro II, Olavo Bilac, Vicente Matheus (não se esquecem que era uma roda de publicitários), Machado, Líbero Badaró, Lula, FHC, Vinícus de Moraes, Tancredo, Médici, JK, Getúlio, Bandeira, Sérgio Porto, os Buarque, Zé Dirceu entre outros.
Em determinado momento, focamos na questão de qual destas personalidades contemporâneas nos provocam inveja. Sabe aquela coisa de: "eu queria ser este aí..." Um deles dizia que sentia inveja e daria tudo para ser o Olivetto, pela criatividade e inteligência. Outro queria ser o Antonio Ermírio, pela forma como conseguir ser rico e consegue viver. Um outro que chegou mais tarde e entrou de gaiato no papo, disse que queria ser o FHC. Ah, se tem alguém que invejo é o Chico Buarque, pela vida, pela obra, pela inteligência e muito mais...

Tempo e artista - 1993

Imagino o artista num anfiteatro

Onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte
Tendo o mesmo artista como tela

Modelando o artista ao seu feitio
O tempo, com seu lápis impreciso
Põe-lhe rugas ao redor da boca
Como contrapesos de um sorriso

Já vestindo a pele do artista
O tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco
Apenas abre a voz, e o tempo canta

Dança o tempo sem cessar, montando
O dorso do exausto bailarino
Trêmulo, o ator recita um drama
Que ainda está por ser escrito

No anfiteatro, sob o céu de estrelas
Um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória
E o artista, o infinito

Joana francesa - 1973

Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau
Geme de loucura e de torpor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Mata-me de rir
Fala-me de amor
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Vem molhar meu colo
Vou te consolar
Vem, mulato mole
Dançar dans mes bras
Vem, moleque me dizer
Onde é que está
Ton soleil, ta braise

Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau
Tu as le parfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda